sábado, 28 de fevereiro de 2009

Parasitismo



O céu estava denso, tão denso que parecia impermeável, incapaz de atirar uma gota contra o chão.
E a menina sentada na janela bebericava seu chá enquanto observava pensamentos passeantes.
Entre grades amarelas ela ouvia a novidade de prisões cheias. Novidade.
Esforçava-se pra botar pensamentos pra fora.
Esforçava-se pra botar o chá pra dentro.
Devia estar vazio.
Devia estar cheio.
Nada a satisfazia, nem o cheio nem o vazio. Nem o cheiro de chuva contida, chuva egoísta.
Inverteu.
Bebeu pensamentos. Não se podia tirar da onde não tinha.
Colocaria.
Se não podia colocar onde já tinha demais, pararia.
Funcionou.
E aquele céu a possuiu. Fusão.
Estava impermeável. Cheia de pensamentos quentes.
Porém, na rua, gotas ausentes.
Não choveria naquela noite.

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