sexta-feira, 24 de junho de 2011

Carta de amor

  Pensando bem, acho que meus passos nunca foram leves.
  Eu não era sutil e surtia efeito (era um defeito) mas eu comecei a gostar, e a mudança pra ser insustentávelmente leve me é tão atraente que comecei do jeito errado e mais difícil: eu tentei começar pelas pessoas, tentando não me arrebatar. Depois pela carne: tentando não matar.
  Eu nem percebo que morro aos poucos pois estou perdendo algo a todo instante: as parte de você, que eu já nem lembrava que estavam em mim porque também era eu. Agora eu me perco te perdendo paulatinamente.
  Eu tirei você dos meus braços, tentei tirar você da minha mente e agora você se retira da minha vida.
  Você sempre foi mais completo do que eu (muito mais problemático, confesso), mas muito mais completo.
  O meu esporte no começo era mudar você e depois que você seguiu todas as minhas exigências protocoladas, vimos que quem precisava das mudanças era eu, bem mais que você. O seu amor cego me amava tanto que ele conseguia sorrir e eceitar todas as minhas navalhas afiadas que cravavam na sua pele sempre que você me abraçava, e ainda que chorando dizia que não me soltaria nunca porque voce também amava as minhas navalhas, eu é que não amava os seus espinhos. E por isso aleijei você, deixei você o mais dócil possível, tão domesticado! 
  E o meu último pedido foi na verdade uma afirmação: eu não te amo mais.
  Te deixa mais confuso quando digo qual é a parte desse amor que morreu: era a parte carnal. Mas como explicar a minha reação contraditória às minhas palavras toda vez que você me tocava? Te enlouquece saber e me mata sentir que o amor que sinto é algo transcendental. A que? A mim mesma. Ele me assuta tanto que até te deixo ir, pra você ser feliz longe de mim, porque amar assim é sacrilégio. Você chama de privilégio.

Medíocre e cruelmente, eu te amo.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Derradeiro

Enquanto você se agarra
em meus seios
em meus apelos
em meus meios
em meus pêlos
de dizer que não amo mais.

Sobre meus anseios
por cima de minhas ânsias
dentro de minhas inconstâncias
puxando minhas ancas

pra mais perto de você.

Pelos meus cabelos
pêlos meus cabelos de pelos
que pêlos meus apelos te
enredam enveredam
envenenam

pelos meios apelos
contracenam
meus seios contra seus meios
dialogam
meus fins contra seua anseios
monologam
os seus apelos.

Que sua sua chuva me mova
e minha curva se morra.
Minha sede se evapora.
As cores se enamoram só pra ter a mesma tristeza de meu sal incolor.
O amor é uma dor disfarçado de felicidade.

Os meus fios escorregadios
escorrendo fins de chuva.

Você ainda segurando minhas medeixas
e eu suss.urrando
ME DEIXE

eu ainda soletrando o vazio
surda às suas queixas.

Começando pr acabar.

Numa batida charmosa
deixe que eu te guie

angulosa.

O meu quadril vai no ritmo
do teu samba
do meu bamba
da nossa prosa.

No calor do funk
como le gusta.
Me gusta.
Te gusta?
Me custa muito caro me manter parada.

Me arranque a língua
badulaque à míngua
minguando a noite inteira
a metade um balde
a inteira metade
a meneira de falsa verdade.

Agora meu quadril vai no ritmo da tua manha
da tua maconha
até de manhã.
E depois de amanhecer eu aconteço e me despeço de um quase nosso começo sem verbo.

No meu paralelísmo labiríntico
eu te seduzo
-com meu verbalismo
eu te conduzo:
à minha boca
à minha louca

à minha rouca
vontade de te acabar
até que eu não me sobre.
Até que meu ouro vire cobre
até que uma esquina me dobre.

Porque sou evaziva
tente me pegar
eu me esquivo
eu me resquício
e me esqueço de ser sua.

Porque eu sou índia
pele vermelha
tato quente
aquela coisa envolvente.
Pele de terra
olhos escuros.
Eu me desmancho com o vento
me visto de relento
não me calo e alento.


Porque eu sou medusa
me usa
que eu te recuso
me abusa
enquanto você intruso.
Aproveite que ainda não olhei pra você, pois quando o fizer, paralizo
extatizo.