sábado, 28 de fevereiro de 2009

Caleidoscópio


As esquinas andam sinuosas demais. Os becos estreitos demais. As noites se resguardam numa prudência insana de quem está prestes a dar o bote e botar pra fora e colocar pra dentro.
O silêncio anda me contando segredos em alfinetadas cortantes.
O aquário de pedras coloridas ao lado da fumaça envolvente transparece segredos imigrantes. De você pra mim. Migrantes. De mim pra você, num mutualismo surpreendente. Estou prestes a violentar minha calma. Tudo parece tão doce como sempre foi, mas aqui dentro o cheiro gustativo me mostra um caleidoscópio de coisas brilhantes meio enluaradas. Difícil de se fazer entender.
Os poucos livros enfileirados não gritam mais. Sussurram algo tão baixo que por um momento quase me desesperei achando que não podia ouvir, mas agora eu ouço.São como filigranas rabiscadas no meio das agulhas finas do silêncio. É quase visível.
A meia flor de duas pétalas negras e restante transparente está brotando da cera translúcida da vela verde que acendi dias atrás quando tive medo de dormir, acordar e perder. O vidro está rachado pela chama da vela que velou meu sono e quando apagou não falhou na missão: acordei e não perdi.
Há uma menininha de longas pernas e vestido preto que segura pequenas mensagens borradas por pingos de tinta. Verde é a cor da vez. Ela sorri de modo tão doce quanto eu. Suas longas pernas se parecem com as minhas. Se não fosse pelo vestido...
O Cálice. O pequeno cálice é o único que não fala. Para embebedar já basta o restante. Se ele falasse passaria de alegre a bêbada. Ele apenas guarda conchas e arames, chamas não. Quem chama é ele, a vela não. A chama da vela guarda o que às vezes temo que vá embora. O que o cálice chama atende ao pedido, ele guarda e aguarda.
Por um segundo quase achei que não voltaria. E dessa vez nem precisei acender a vela.

Cacos


Como que em incontáveis pedaços de espelho quebrado, me vejo contada em diversas versões de mentiras.
Há duas e apenas duas coisas em que não se deve acreditar: palhaços e espelhos. Palhaços sempre falam a verdade e espelhos mostram a sua versão da verdade, e a impessoalidade conveniente é algo que prezo muito.
O som de algo novo sempre me assuta e quase tento escondê-lo, olhos curiosos e sutis não são lenda; isso dá quase um teor ilícito aos meus atos. Ainda bem que não são lenda.
Há flores por todos os lados, e quando se dá conta que estão lá, felicitam-se a tal ponto com sua percepção que se fazem onipresentes. Estão por todos os lados.
Sinto a necessidade alheia da narração e são sempre pra mim. Confidenciam-se, abrem-se, desabrocham-se (eu disse, por todos os lados); não só a necessidade da narração pois ela sempre vem acompanhada ora do eufemismo ora do épico. Por onde anda se escondendo o realismo imparcial? A fidelidade aos fatos anda um tanto utópico.
Pedras enterradas guardam segredos, e ouço o burburinho que fazem quando pés despejam estórias sobre elas. São silenciosas, discretas e concretas, ao contrário do que sabem.

rosa e desejo


Estou num quase desespero de uma quase certeza de perceber que a única coisa que me contentava está indo embora.
Estou eu menos antes. Estou eu mais. Mais o quê? Mais mulher? Vou me poupar de meus pessoais desta vez. Talvez mais erudita de tanto ler rostos e peles.
Cristais de céu me penetram o corpo e confundo prazer com dor.
Me confundo comigo mesma e com restos de pessoas que insistem em não ir embora. Não estou fazendo uma limpeza, estou me fazendo. Refazendo. Estou mais marcante e quase sutil.
O que sou depois de você? Onde estou antes de mim?
Eu me propus a fazer e quase fiz, me propus a estar e quase fui, me propus a ser e estou. Estou o quê?Desejada.
Me movo a desejos, os mais primitivos e complexos possíveis.
A pior tragédia humana foi associar o nascimento humano do ser ao erro. Erro segundo crenças bem quistas por alguns ate hoje (por razão quase não lembrada), eles lucram com isso, com a ideia do profano e você, financia. O seu desejo é o meu desejo com minha tonalidade e característica. Não o simples desejo de carne, mas sim DA carne, para carne, com carne e o que se encontra nela; não ela em si, mas sim em mim. Desejos são educáveis mas não portáteis, você pode se negar dependendo da maneira como os trata. O conhecimento e discernimento (o temor de muitos) não é uma dádiva divina e sim uma característica humana bem trabalhada. Aprimore-se.
"O medo", prazer. Medo de que? De querer? De querer desejar ou da fútil não aceitação? Nesse caso, consciência é a parte mais superficial do nada.Não se negue nem submeta-se, a rosa é signo do desejo. A temeridade da ignorância é a aversão da razão.

3


Ele.
Ela.

Separados por ponto final.

Ele,Ela.

Pausados pra respirar.

Ele e Ela.
Unidos por um.são

Parasitismo



O céu estava denso, tão denso que parecia impermeável, incapaz de atirar uma gota contra o chão.
E a menina sentada na janela bebericava seu chá enquanto observava pensamentos passeantes.
Entre grades amarelas ela ouvia a novidade de prisões cheias. Novidade.
Esforçava-se pra botar pensamentos pra fora.
Esforçava-se pra botar o chá pra dentro.
Devia estar vazio.
Devia estar cheio.
Nada a satisfazia, nem o cheio nem o vazio. Nem o cheiro de chuva contida, chuva egoísta.
Inverteu.
Bebeu pensamentos. Não se podia tirar da onde não tinha.
Colocaria.
Se não podia colocar onde já tinha demais, pararia.
Funcionou.
E aquele céu a possuiu. Fusão.
Estava impermeável. Cheia de pensamentos quentes.
Porém, na rua, gotas ausentes.
Não choveria naquela noite.

A Rosa. Rosa.


E tu? Também se engana pelo meu sorriso de flor aparente?
O sorriso da rosa está sendo descoberto. Te agrada? Te sustenta. Te ostenta. Te contenta com isso?
Eles precisam saber. Ver o que você vê, sentir o que você sente, e juntos tentar compreender o que você também não compreende.
As pessoas se aborrecem. Não se aborreça você também com o aborrecimento alheio.
É tudo tão vago. Superficial demais. Simples demais.
Não perca seu tempo, nem com eles. Não valem a pena, nem a galinha.
Deixe cair e cairá como uma luva. Você vai entender mesmo que não aceite. Ninguém nunca disse que não seria assim. Está sendo fácil? Nem pra mim.
O olho da escada gira em furacão.
Estamos no meio.
É assustador? Parece? Não é nem metade. Assuste-se. Me.
Aquele mar de estrela sem céu. Flutua. Propaga-se no ativo. Aquele céu de mar. Eleva-se. Mistura-se.
Comungamos estrelas de hóstia, estrelas hostis.
Ah! Não me iluda! Não diga que posso mudar quando eu mesma quero e mereço o castigo. Me sinto temporariamente bem com meu comodismo. Ele me acalenta e acalma. Você é turbilhão. Iremos pelo começo. Acalma-te que nada é pra já. O que você chama de comodismo eu chamo de paciência, chamo de tempo. Tenho uma contagem própria, ininteligível. Meu tempo embora corrido é largo, vazante. Evasivo, de ti.
Eu vou soltar e você não precisa me segurar. Você sabe que eu te chamo. Alguma vez não o fiz? Não precisamos agradar a todos. A rosa está aí pra isso. Guardar segredos. Está segredada a nós. Pra isso. Não mais que isso.
Tens pressa? De mim. Eu sinto, eu vejo. Demonstra-me.
Tenho pressa? De mim. Eu quero, eu vou. Espero-me.
Não. Não diga o que é dito sem palavras. Poupe a nossa retórica. Saliva. Nossas cantigas são de amigo. Comigo. Contigo. Conosco. Umbigo.
O que? Desistir? Correr? Corra. Desista. De mim. Corra. Pra mim. Uma carta. Frente-verso. Lida.
Mais? Dou. Grita!
Agora? Já!
Quando? Aqui!
Vermelho? Sim! A Rosa era. Rosa. Não te lembra? A mim sim. A Rosa. Rosa. Segredada. Sagrada. Sacramentada.

A Ana


A Ana é uma pincelada.
Ela colori a lua sem graça e sem criatividade. Ela aquarela e borra. Faz transbordar a falta que faz.
O sangue escorre de mim, ele está maduro pra ser escrito e escorrido. Ele mancha, brota, canta.
Ah sim! Ele canta. Ouço bater na água a melodia vermelha de cheiro forte e som suave.

gota
a
gota

Escorre de minha essência. Do íntimo, do meu âmago. Estou seca.
A Ana escorre secando o caminho que molha a lua. A lua irriga-se. Alegra-se. Vinga-se de tanto tempo sem Ana. Maltrata-a deixando aquela melodia sem foz, sem uma voz. Aquela melodia escoa oca. Escoa: ecoa. Escoa louca. Escoa rouca. Escoa soco. Ecoa pouco.

E eu que ainda não


E eu que ainda não havia aprendido a ficar calada,falava o que não devia na hora certa.
E eu que ainda não sabia falar,me calava quando as palavras existentes já não eram mais ditas.
E eu que ainda não sabia ouvir,desligava minha percepção quando o tato entrava em jogo.
E eu que ainda não sabia beijar,parava a sincronia descontinua da minha boca pra poder continuar com os olhos.
E eu que ainda não sabia ver,abria os olhos para que aquelas imagens decodificadas fossem descobertas pelo meu corpo.
E eu que ainda não sabia amar,colocava tudo em risco mesmo quando havia uma necessidade desnecessária.
Eu,infringindo todas as leis imaginariamente existentes me fazia viva,mesmo sem saber.
E eu que não sabia o que era vida,me fiz morrer para acordadr no real.
E eu que não sabia o que era morte,a desafiei vivendo um dia a mais do que deveria ter vivido uma pessoa de sorte lamentavel.
E eu querendo saber o que era juventude,me quebrei em incontaveis pedaços imutaveis e me roubei um deles que agora carrego sempre comigo.
E eu que queria ser inventada, gritei em braile para que o mais sencivel dentre aqueles que não podem ver me sentisse nos dedos e me fizesse como qualquer outra pessoa fosse incapaz de o fazer:com perfeições tão tortas,as piores.
E eu que tentava descobrir o descobrimento e o auto também,me fiz rouca ao perguntar,me fiz louca ao enteder,me fiz paranóica ao imaginar,me fiz atenta ao ouvir,me fiz inteligente ao tentar,me fiz teimosa ao discordar.
Me fiz pensante ao te ver.
Me fiz amante em você.
Me fiz descoberta em tecido.

Perdição simplória



Ela não percebia de nada e recebia alguns olhares por isso. Se fazia simplória quando convinha.
A falsa falsificava olhares e ficava falsamente satisfeita.
Mente tanto, tanto quanto. Quando pode, morde agora na hora em breve ,o acaso casava vagabundagem com fogo.
Possivelmente o limite, no limiar da vulgaridade no limitar da boca ardente ela queria e desejava em cego.
A fada da perdição estava perdida em passos sem direção direcionada ou estipulada.
Em costela, encostada nela fazia pulsar o vento, vento pulsante e costela flutuante. Eu bem que via o bem-te-vi sonhando com peito amarelo. Ela brincava de canção de condão para insuportar o suportável; se divertia com vidro molhado.
A vampira sugava a beleza, a beleza da incerteza que de todas é a mais concreta e contrariada.
A fraca franqueza era secamente molhada ao descaso pois ao acaso já bastava o sarcasmo, já bastava a morte.
O roxo com azul até que combinava com o negro da sua alma. Alma nova. Lua nova. Alma cheia em crescente. Ah... aquela inconsequente desconsolada falava de repolhos e reis roxos. Repolhos roxos, não reis. Reis eram azuis; tinham alma negra, alma nova, os repolhos, não os reis. Os reis não têm alma.
Os brancos sentados no trem tentavam malandragens danadas. Davam a quem não tinha demais pra dar... tão brincantes e os augustos tão sérios...alguém me disse que deveria ser versa-vice...mas está, seria vice-versa? E se o versa virasse o vice fosse primeiro, ainda estaria ao contrário? Alguém me disse que não...
Ah, a fada da perdição...

Ele e Ela


Ele pensa achar que sabe, mas não é apenas um simples saber.É um pensar que acha que sabe de tudo sobre todos,mas na verdade ele ainda está se achando no descobrir do auto-conhecimento .
Ela pensa não saber de nada, mas é um nada referente a tudo. Ela aparenta saber de muitas coisas e até se passa por interessante.
Ele sempre tão genérico.
Ela sempre tão efusiva.
Ele é sempre muito vago, tem uma opinião superficial, tão transparente e leve que nem chega a ser palpável.
Ela é expansiva, com opiniões que chama de crenças bem fervorosas.
Ele imutável.
Ela instável.
Ele é sempre o mesmo. O mesmo humor seco e inalterável. Aquele ar de pouco caso e de quem não se importa, e quem sabe se não é mesmo assim?Não está sujeito a mudanças, ele não se sujeita a mudanças.
Ela tem sempre os mesmos sentimentos e que não são poucos; fica oscilando entre eles numa velocidade inconstante. Ela faz que se importa, gosta de se importar, talvez seja de verdade.
Ele certeza.
Ela distraída.
Ele sabe de coisas sobre ela que ela não contou. Finge ter uma falsa onisciência que a surpreende.
Ela é distraída até onde sua memória limitada a permite, depois disso, ela esquece. Ele sarcástico.
Ela não perspicaz.
Ele irônico, do mesmo modo do seu humor e todo resto: seco e evidenciado. Ironias nada sutis e bem perceptíveis.
Ela se usa de ironias sutis, porém bem vista aos olhos dele, mas o contrário não acontece com ele, pois apesar de seu sarcasmo pronunciado, não é o suficiente para que ela entenda.
Ele calmaria.
Ela ventania.
Ele gosta de tempo seco e úmido, sem vento para perturbá-lo. Preenche o silêncio com uma sonoplastia estranha que ela diz que acha legal; talvez ele sinta-se desconfortável com o silêncio.
Ela gosta de tempo úmido e quanto mais vento melhor, gosta de sentir o toque do vento na sua pele e ficar arrepiada como reação. Ouve o preenchimento do silêncio dele e em resposta muitas vezes não diz nada...Ela solta sons involuntários provocados pelo cansaço que ele diz gostar...Ela se sente confortável com o silêncio, mas este a assusta.
Ele, passivo.
Ela, ativa.
Ele no sofá com posições não muito confortáveis, sempre com outra distração ligada, mas ainda assim, sempre presente. Sempre com fome, devido a ligações em horas um tanto impróprias, dela, é claro. Ele também sempre com a porta fechada ( não gosta de vento), mas mesmo assim, seres que não foram convidados aparecem para sua mini festa noturna particular...gostam de luz. A sua voz já é baixa naturalmente, mas nada o impede de gritar, apenas sua natureza.
Ela sempre com a luz apagada e as estrelas brilhando no teto. Ela também sente fome, mas por um motivo diferente: esse é um estado natural dela. Ela sempre com a janela aberta e nenhum visitante, não que ela esperasse algum, apenas para poder sentir o vento. Sua voz está baixa, mas não pela sua natureza, mas sim pela natureza de quem está ao seu redor, afinal, seu tom é alto. Gostaria de gritar.
Ele cético.
Ela crente.
Ele não tem muitas filosofias a não ser as suas e mesmo assim, não as segue à risca. Está sujeito a tudo, mas não se sujeita a tudo. Gosta de tirar conclusões momentâneas e duradouras... não acredita em qualquer coisa, mas conclui quase todas. Ela acredita em tudo com muita volubilidade, mas é tão inflexível...Ela sempre acredita em tudo o que ele diz e não sabe muito bem o porquê. Sua falta de descrença faz falta às vezes.
Ele indistinguível.
Ela esboço.
Ele deseja algo e as vezes diz o que quer,mas ninguém sabe com certeza o que ele deseja no intimo,talvez nem ele mesmo.Ele diz querer ter muitas coisas materiais,mas ele não sabe como é tê-las nem se isso é bom,apenas quer. Ele não tem um gênio muito fácil de lidar, mas também não o faz parecer mais difícil do que realmente é.
Ela não é muito certa de seu futuro, mas dentre as poucas certezas que tem é que quer viver das letras. Ela sempre tenta deixar bem explícito o que sente; coitada, tenta ser transparente, para ver se assim alguém descobre mais dela mesma, pois ela não consegue o fazer sozinha.
Ele desleixado.
Ela desatenta.
Pra ele tanto faz como tanto fez, do jeito que está, está ótimo! E se caso não estiver, bem...ele deixa mesmo assim. Um tanto negligente em relação à tudo, inclusive com a própria vida.
Ela é totalmente absorta em pensamentos perdidos. Sua concentração é muito frágil e desatenta. Se deixa passar sem que perceba, sempre esquece o que diz, mas quase nunca o que ouve.
Ele pensa.
Ela escreve.
Ele pensa. Nem muito nem pouco, mas o suficiente para dizer que pensa. Não reformula nem reforma pensamentos, os deixa cru. Os cria de uma vez só e depois os vomita pra fora e os deixa intocados e inacabados, mas sempre prontos segundo o seu critério ilógico.
Ela escreve, e com o escrever se faz pensar. Escreve, reescreve, cria, inventa, copia, reformula, edita, repensa, escreve e nunca está bom o bastante, apenas o suficiente, (não necessariamente nessa ordem). E no final, (ou no que ela acha que seja um), ela mostra pra ele e ele o publica, mesmo sabendo (e não concordando) que está inacabado.
Ele alienado.
Ela interada.
Ele tem um grande desinteresse por questões políticas e sociais, muito mais pelas políticas. Uma das poucas coisas que o tira desse estado de alienação é Ela, mas ela também é um dos meios de alienação. Fora isso, ele se mantém no umbigo.
Ela interage com coisas e pessoas e muitas vezes nem sempre é mútuo. Ela se interessa muito fácil, por tudo que brilha ou não, principalmente pelo que não brilha. Ela também provoca interesse, quase sempre dele.
Ele inenarrável.
Ela interessante.
Ele em muitos aspectos é bem singular. Um tanto excêntrico, se desvia do centro, foge dele. Não chega a ser esquisito, nem extravagante, talvez excêntrico seja a palavra, mas ele é tão desprovido de signos para explicá-lo que talvez excêntrico seja a palavra certa. Ele tem uma pretensão que a faz rir, não se sabe se é natural ou fruto do seu sarcasmo, mas o seu sarcasmo já não é natural? Talvez um bom adjetivo seja inefável, embora não faça jus ao que ele é. Ele tem um lado não muito explorado e pouco compreendido que ele está sendo desperto agora, parece gostar.
Ela possui uma avidez instigante, poderia ser chamado de curiosidade se fosse menos acentuada. É uma ânsia, uma vontade de um não-sei-o-que, com uma voracidade arrebatadora. Ela provoca certo enlevo em algumas pessoas, certa sedução, um êxtase malemolente, capaz de enlear com a mais pura facilidade. Ela é incessante, inconstante. Não pára nunca. Se faz incoerente, contraditória, desconexa e é muito enfática em tudo isso, é o que a torna reticente...
Ele egoísta.
Ela egocêntrica.
Ele tem um grande apego a si mesmo, aos seus interesses, a sua vida e em alguns acessos de boa vontade, o altruísmo faz parte do seu dicionário.
Ela tem os seus interesses como meio de vida. Com certa freqüência tem atitudes em benefício do próximo. O seu egoísmo é tanto, que ela se priva dela mesma.
Eles são tão diferentes que nem o seu egoísmo é igual, porém é a única coisa que têm em comum, é isso o que os une, pois eles se complementam e se compreendem mutuamente. O egoísmo dele e a egocentricidade dela, tem o mesmo significado, é o que os torna iguais desde os 8 anos de idade.

Com.centra.ção


Não posso me desconcentrar. Não agora. Mas não consigo...não quero.
O meu caderno faz falta.
Não sei o que fazer no sábado.
Estou num quase desespero e numa quase infelicidade.
Consumi-me demais essa madrugada.



......."A taxa de crescimento é de -300% nessa PG"........



Engraçado! Ela parece estar falando de minha situação atual...

Odeio me deixar dependente de um livro. Meus sábados fazem tanta falta...
 
Eu quero tanto chorar, mas causaria estranhamentos na sala de aula por ficar descontrolada sem motivo aparente. Quero chorar pois está tudo tão acumulado e faz tanto tempo que não choro por necessidade. Estou seca pelos motivos que me deixam cheia de lágrimas. Lágrimas que se recusam a cair por orgulho e fraqueza em demasia. Eu queria ser forte para perceber que é uma coisa passageira, mas sou fraca e tenho quase certeza que minha situação atual é permanente dada as circunstâncias.
 Ah! Como estou infeliz por esperar algo que sei que não vai acontecer. Como odeio me entregar a fantasia ao mesmo tempo fascinada e dolorida pela constante consciência de que ela é irreal. Onírica. Não sei mais o que escrever e no entanto sinto uma necessidade absurda de o fazer. Ah! Como eu preciso. Não quero que ninguém venha me perturbar nessa mini depressão momentânea particular, embora eu tente torná-la publica para ver se se ameniza.
A minha droga proibida é a minha imaginação induzida. Ela me extasia sob seu efeito e quando passa faz com que meu coração palpite (literalmente)e com que minha mente se desespere em busca de mais.

Peço ajuda?

O tenho ao meu alcance. Não necessariamente uma ajuda, apenas um desabafo descontrolado que ele tentaria entender sem sucesso e que não sei qual seria a minha reação após isso: melhor ou pior, mas a dele me parecia previsível. Desisto da ideia, entro em pânico de dividir essa coisa tão absurda e infantil com outra pessoa. Ele veio...disse a ele que sua reação fora como eu esperava, mas eu sabia que não tinha sido. Eu não o chamei, mas acho que gritei tão alto que ele veio. Não sei se isso foi bom. Minhas orelhas ardiam mais (começaram quando ele chegou) mas o meu coração doía mais que antes.

Eu não quero parar.
Eu não paro nunca.
Eu sabia disso?

Eu disse num sussurro que o amava.
Ele disse que sabia.

Como eu queria que você soubesse


Eu só queria que você soubesse...
Que mais nada importa. Nunca importou. É só você tirar os óculos da ignorância que te impedem de ver a essência da vida.
Como eu queria que você soubesse...
Que o beijo não é nada, apenas mais uma demonstração de carinho assim como o sexo.
Eu só queria que você soubesse...
Que somos todos iguais, não somos especiais e embora essa frase pareça triste, não é. Ela é mágica e quando você descobrir isso, você saberá.
Como eu queria que você soubesse...
Que você é Deus, eu sou Deus, somos todos Deuses! Olhe pra dentro com os olhos do coração, faça um esforço e não será difícil achá-lo.
Eu só queria que você soubesse...
Que tudo isso não passa de um sonho, que nada é real, embora pareça tão concreto. Nada é real. É apenas um sonho insano. Basta apenas que você acorde.
Como eu queria que você soubesse...
Que viver, ouça bem: VIVER, não existir. Que viver é maravilhoso, mas não é nem uma fração da felicidade da realidade, e quando você acordar, verá que ela é abstrata. Mas enquanto você não acorda e não conhece, como eu queria que você soubesse...

Resignada

Pára.Pára e repara
no inexistenete mundo do caos.
Olhe com coragem,não é miragem:
os homens não são maus.


Tudo não passa de um sonho insano,
apeas acorde e veja:
o mundo não é mundano
ele é como voce quer que seja


É isso!Óculos da ignorância!
Tire-os e atire-os para longe!
E perceba e irrelevancia
do agora,do hoje.


Devaneie agora,hoje.O amanhã
E perceba que não passa de realidade
o que achou que não era de manhã
é apenas uma complexa simplicidade


E quando estiver cansado
da ignorâcia do mundo e do devaneio real,
não faça,nada,NADE!
Para as profundezas do surreal...

Sempre agora

Coisas legais acontecem de repente.
É o que me motiva a ficar acordada de madrugada esperando que alguma revolução aconteça em minha vida. Engraçado,eu queria acreditar que que não...mas eu realmente acho que vai acontecer NESSA madrugada.
Olho para a janela... Fechada Olho para a gaveta... Aberta Claro que não vai acontecer! Não se a janela continuar fechada:ela tem que ficar aberta para o novo entrar .Claro que não vai acontecer! Não se a gaveta continuar aberta:ela tem que se fechar para o velho se guardar.
Pronto!
Fecho a gaveta,abro a janela e calço meus sapatos.Claro!Sapatos:caso eu presice pular a jenela e correr.Pra onde?Não faça perguntas difíceis...só sei que estou pronta caso precise.Sempre estarei,mas eu sei que não será necessario o sempre.Apenas essa madrugada.

Orgásmico

  Penso,penso logo existo...penso logo exito... Pensamentos que me comem e me consomem.
  Ah...essa dubiedade que me mata. Essa busca pelo inalcansável que nem está tão longe assim.
  Onde me localizo,onde me aliso e paraliso.
  Onde me espreguiço...
  Onde penso,penso e exito.
  Quero voar... Estou leve...sinto-me subindo.
  Me desfaço e me faço em mim mesma.Sou a mesma e tão diferente de há um segundo atrás,agora.
Não sei o que faço...a caneta vai,a mão(que outrora era minha)apenas segura.
Sinto minha mente numa clareza turva,ela quase se revela inteira pra mim,eu quase posso ver. A luz é fraca,me sinto dopada...num êxtase orgásmico apenas por...apenas. Não procuro explicação...não sei mais o que procura(alguma vez soube?),não sei se procuro...me sinto estranhamente bem.Apenas tento lembrar...de que mesmo?Nem sei mais...por isso esqueço... Entram e saem,não vejo:sinto muito. A lágrima parece tão distante,quase uma quimera.Meu rosto está seco,a não ser pelo sorriso,que emana luz e clareia não só o quarto,mas também a noite,me clareia.
Ele brinca comigo...a reação é o arrepio a sensação é a leveza...Tudo parece tão concreto demais e eu tão volátil...contrasto e estranho tudo isso.
A música escutada e não ouvida chega ao fim,é ela que me inspira.
Lembro de coisas que nunca vi.
Me sinto girando,dopada,me drogando com o oxigênio, que faz um efeito alucinógeno quando inunda meus pulmões. Meu corpo parece tão pesado para continuar com ele.Minha cabeça pesa tanto...Ela não quer mais pesar(,) nem pensar.Mas ela(a mão)já não é mais minha,é da caneta,do papel,ela não obedece mais(já obedeceu?). Vida própria é um perigo!
Até cansar...
Até gozar...

Amor que devora

  Sinto tanto...sinto muito.
  Minha alma está a flor da pele. Estou no meu melhor momento e como sempre materialmente sozinha.
  Estou linda...linda e viva. É algo que irradia que invade e me toma. Penso em todos esses sentimentos adolescentes que são tão puros e profanos ao mesmo tempo.
  Os meus olhos me dizem algo não dito e sim sentido. Minha boca numa sede de ser tomada e beijada tão avassaladoramente que doerá insensivelmente sem sem doer e tirarará o meu corpo de dentro de mim,porque agora sou toda alma.
  Penso não especificamente naquela pessoa e o que faríamos se estivesse ao meu lado.Faríamos coisas puras e profanas segundo crenças irrelevantes.
  Meu cabelo moldando o meu rosto tão precisamente desenhado pelo vento,acaricia meus ombros e meu colo. E minha boca que não pára.Ela fala,grita,ri,canta e come..,ela. Sentimentos limitadamente conhecidos estão todos despertos agora num grau que se eleva aos meus conhecimentos e entendimento,contradiz minha razão e minha boca que dizia exatamente o contrário até ontem. E isso é culpa de vocês.Sim,porque agora não é só um.Eu não sou só uma.Agora sou pé,boca,cabelo vento...sim,sou vento que faz amor comigo,faço amor comigo,me admiro.NARCISO.Talvez seja ÁGAPE.E até certo ponto ÉROS.Todos eles. Sou tudo,por você. Pra você.

Revela-se

Não deu pra esperar.
Terminei meu banho às pressas antes que eu me desmaterializasse no chão e escorresse pelo ralo. Molhada e ainda de toalha(eufórica demais pra me secar)corri pro telefone:ligar para uma pessoa que não tem mais tempo pra mim.
Ah!Essa coisa que me dá e parece que quer explodir o meu peito. Me deixa,deixa o meu corpo aqui,não preciso dele para a vigem que tenciono fazer. Rasga o meu peito e solta o meu pulsante.Larga o meu peito e solta-se no espaço. Eu ouço voce chamar,só não sei como fazer para atender à esse chamado tentador e irrecusável. Me leva com você e deixa o meu material aqui,mas não faça isso comigo,não me torture me convidando para algo que sabe que sonho em fazer mas nao faço ideia de como fazer. Eu não sei quem é você nem o que quer de mim,mas eu quero você e quero o seu lado mais obscuro(seria esse?) .
Você que me conhece tão bem a ponto me deixar euforicamente desesperada.Voce que sabe a cor dos meus segredos me deixa ver o seu. Me tira esse peso desnecessário que carrego e leva pra onde você quiser.Eu vou. Não tenho pra onde correr. Não tenho como correr.
 Não sei como correr.

Tarde qualquer

Não penso,apenas escrevo sem pensar.
 Talvez fosse melhor se não escrevesse ou pensasse.
Aqui,agora,nós e o pôr-do-sol. A pipa atrás do sol,ainda não consumida e sim assumida.
A cidade despede-se do sol,absorvendo sua luz para suportar a noite fria sem lua. Tento ficar cega quimando minha retina com a fraca e vermelha(pálida) luz do sol poente,que já não é mais forte o suficiente para tanto.
A serra outrora verde,apaga-se no azul e agora emana nuvens atrás de si.
CONTRASTE: nuvem,sol,serra,cidade.
A serra que encerra a cidade;
as nunvens que serram a serra;
o sol que se encerra.

O sol descendo A pipa subindo...

Janela

Não deixe que o menino abra a jenela e veja. Não lhe dê uma jenela se ele não pedir,lhe dê uma bola.Ele será mais feliz. Não tranque a janela,pois todos têm o direito de vê-la(mesmo que depois prefiram não ter visto),apenas a esqueça,deixa-a de lado,mas não a tranque. Deixe o menino correr com suas pernas vivas,fugazes e insegurasatrás da bola,mas não para a jenela. Não deixe que quem está do outro lado da jenela veja(ou roube)o sorriso prateado,cativante e sincero do menino. Não conte ao menino da existencia da jenela,deixe que ele perceba sozinho que ela está(sempre esteve e sempre esterá) lá. Não se preocupe se ele perguntar o que tem do outro lado da janela.Diga a verdade,diga que tem um outro mundo lá e é diferente,e que por hora só isso se basta saber. As perguntas se tornarão mais frequentes e a curiosidade crescerá assustadoramente inquisitiva,então,abra a janela e deixe que a atmosfera se transforme,pois afinal,não somos mais os mesmos. Porém,quando voce olhar novamente e não o encontrar,não se aflija.Apenas olhe para a porta que ha muito jas esquecida:estará aberta,então perceberá que não é mais um menino.

Perfume da rosa-dos-ventos

  Me deixa! Só por hoje. Por favor... Deixa eu sentir o perfume da rosa-dos-ventos. Deixe que a rosa amorteça meus passos ao vento. Deixe que a rosa faça meus passos ao vento.
  Feche o negro sufocante dos teus olhos para que eu possa ver o seio prATeADO da noite a me guiar.
  Deixe eu caminhar, livre, leve... que o vento me leve para longe e que eu me perca para nunca mais voltar.
  Deixe que minha péssima memória recente se transforme em amnésia perManENTE, para eu não me lembrar do negro sufocante dos teus olhos clamando por amor e liberdade. Se você não é capaz de lutar pela sua liberdade por medo, me deixa ter coragem para lutar pela minha.
  Me deixe rir incontrolavelmente e verá que não morrerei sufocada. Me deixe chorar desesperadamente e verá que não morrerei desidratada se você não intervir. Me deixe esCREveR insanamente e verá...
  Me deixe com as minhas IDEologIAS SUjAS ao seu ver.Deixe eu me sujar nelas e mergulhar nelas,como alguém que mergulha numa piscina de tinta VErmeLHA e sai de lá vibrante ,enquanto você se afoga no negro sufocante que te PARAlisa cada vez mais,que te cega cada vez mais,que te ensurdece cada vez mais,porém,que não te emudecem,ao contrário,te fazem gritar coisas sujas;que te sujam, que me sujam,e que te apagam. Não faça perguntas cujas respostas não pode agüentar.Não faça perguntas cujas respostas eu não sou capaz de dizer.Não faça perguntas.
   Não seja PURitAna a ponto de dizer em que devo ou não acreditar pois eu nao (tenho) aCREDITO em você. Não seja épica a ponto de dizer que sua vida é uma tragédia grega,pois não passa de hipocrisia.
  Reze pela sua Santa Ignorância de cada dia e me diga com orgulho o quanto você a venera.
  Me prenda o quanto puder,use toda as suas forças,corte as minhas asas para ter a certeza de que eu não posso voar,mas só não me faça acreditar de que eu não sou capaz de o fazer,pois eu sei que sou.Então,quando eu for forte o suficiente,e você teme porque sabe que não falta muito,eu voarei tão longe e tão alto a perder de vista,que você não poderá me AcomPANHAR e por muito tempo eu permanecerei assim.
  Não me dê o trabalho de responder aos gritos e bERROS ridiculamente absurdos,me prive disso como há muito vem me privando de todas as coisas que te convém.Você me impulsiona a ficar calada. 
  Me deixa!Só por hoje.Por favor... Deixa eu sentir o perfume da rosa-dos-ventos.Me deixa andar na direção da rosa..na direção do vento...me deixa andar...sozinha,e verá que tropeçarei na pedra do meio do caminho...