quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Silêncio

  Já não era mais amor.
  Ela era passional demais pra ser indiferente. Ela sentia muito.
  Na porta aberta, retalhos mal costurados dentro do quarto/mundo. Era o seu mundo. Um mundo tão grande.
  Ela via.
  Ela ouvia.
  Ela não queria.
  É cruel.
  Você devia saber disso.
 
  O que há de errado com eles agora?
  Está quieto demais, olhos vermelhos demais.
  Excesso de sal ou de ferro?
  Olhos roxos demais.
  Ametista ou olheiras?
  Era anil.
  Era céu.
  Era céu.
  Era abismo.
  Era seco.
  Era fundo.
  Era poço.
  Sem fundo.
  Ela estava no ar permanentemente.
  Ela caía.
  Em poço seu, em infindáveis quedas ela via outros pobres descuidados nem tão ingênuos assim, que já caíram ou já haviam caído.
  Ela continuava.
  E se divertia.
  O que há de errado com eles?
  Caem aos pés.
  Caem aos montes.
  Infindável queda.
  Estava escuro.
  Eu ainda não disse isso.
  Estava escuro.
  Ela só via os corpos.
  Talvez a pele reflita melhor esse tipo de luz.
  Negra.
  Os corpos não eram brancos.
  Nem virgens.
  Nem sujos

sábado, 12 de dezembro de 2009

Moralidade casual


  Eles não se viam há muito tempo. Na verdade, não se falavam há muito tempo, nunca haviam se visto.
  Ela estava mais velha, ele puxando pra um negro azulado, mas disse estar gostando do dourado.
  Ela já seduziu muito bem, acessos de indolência, ele já caiu muito bem, gosta da conivência, hoje já não mais.
  Ela está linda e mais velha, ele continua barbudo e mais impessoal.
  Os dois recomeçam a conversar, sempre se fizeram um bem mútuo de maneiras diferentes. Os gostos eram bons e as cores sempre quentes.
  Tudo diferente mas nada de novo, saudades daquela vontade de fazer parte, sebos de terça-feira e pequenas lições subliminares de moralidade. Eles conversam e ela passa vontade. Muito sexo, filmes europeus e rock'n roll.
   Eles se despedem: "Até mais minha salvação tardia" ele diz.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Jardim



  De cabelos molhados após banho de suor que você me deu.
  O teu presente de boas vindas é sempre um olhar enigmático que me convida a te desalinhar todo até descobrir em que parte do corpo se ocultam as palavras de hoje que você escondeu.
  De maçãs do rosto rosadas e ardendo em brasa você forja em mim todos os seus segredos escondidos em cicatrizes pelo corpo. Te ajudo a soldá-las e sugá-las o que delas transbordar, pois de dentro delas sempre sai um fiozinho bem tênue, etéreo, quase transparente que se você não tivesse me ensinado eu não conseguiria ver. Este fiozinho é por onde sorvo tua essência, mana de magia pura vinda da alma. Ela me envolve toda e ficamos infusas. Tua alma e eu. Teu leite e eu. Tua nata e eu. Essência a essência, e é assim que você vê que dos meus olhos também vertem alguma coisa; gotas salinas que você bebe e lá de dentro elas te gritam ao organismo que o meu cinismo já não é mais pra você. Que o meu sarcasmo maldoso é asco da sociedade que tanto  me maltrata quando a tua mão não está lá pra me pegar pela cintura e me fazer sentir capaz de produzir e jorrar amor aos mal-amados, pra cochichar ao meu nariz cheiros de lençóis passados pela nossa pele de ferro em brasa e de janela aberta em louvor ao céu.
  Dos cataventos coloridos e brilhantes que eu olho fascinada pensando que se eu me esforçasse um pouco mais eu me desmancharia em sementes e me nasceria girassóis de inúmeras pétalas a te seguir com meus múltiplos olhos enquanto você me tateava com inúmeros sentidos, como se vida nossa fosse apenas uma poça que se pisa com força e se semeia do líquido fresco, asfalto molhado com mel.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Monstro.

  Porque não é comigo. Eu não deveria me importar, e não me importo.
  Meus gritos calados pelo pó do silêncio (ou só poeira mesmo) são velhos, mas não é comigo.
  Estou jogada, vulgar e profana, dando ilusões a qualquer um.
  Estou usada e lixada, me despedaçando e tão comum.
  Porque não é meu.
  Este corpo, ele não é meu, por isso me desuso e me abuso, porque não é comigo, por isso não ligo.
  Minha cara roxa e inchada, é pancada de vagabundo que disse me amar há um segundo e depois que termina pede desculpas, mas não é pra mim embora eles me olhem.
  Meus dedos são lixas ásperas que te roçam o rosto para sentir na pele que não sou delicada, que não sou nada, nem sua.
  Aquela que me consome, com curvas loucas e pele quente, me merece vulgar como sou, mas a desprezo. Desprezo assim como desprezo a todos que sentem qualquer coisa digna por mim, porque eu sou suja e quero coisas sujas, porque eu sou sua embora não pertença a ninguém mais que me queira.
  Como se fosse necessária a verdade, precária a capacidade de se desejar algo mais que não eu.
  Na rua larga, a caminhar no meio, longe do meio-fio, no fio tangente que me abrange como larga passante precisando de espaço, precisando de um braço. Não me basto mais, mas não me importa, não é comigo.
  As portas se fecham enquanto não finjo nada, é o medo do inesperado, daquilo que não se pode controlar. É o medo do inevitável que  faz nos extinguir. Era história e história virou agora, mas ninguém lembrará. Não era pra mim.
  Como se a vida fosse algo atingível, transferível, doável,quiçá adorável, mas ela não é minha. Esqueceram de me dar e eu não fui buscar, porque não me importa, não era pra mim, não é comigo, como se nunca tivesse sido.
  Como se atrás do guarda-roupa da casa mais bonita morasse uma tribo de canibais que os de reputação se esforçam pra esconder, mas eu consegui fugir e agora estou com fome, por isso preciso de um braço.
  Sem sentido algum, entregue a desvario meu, ainda querendo algo fresco pra sentir em meu rosto. Poderia ser um seio, gosto de pele. Poderia ser um muro, para o meu rosto roxo e ainda inchado. Poderia ser aquele braço. (Sem saber que na caixa de sapatos empoeirada embaixo da cama ainda há algumas balas cheias de pólvora, e eu ainda sem arma...). Mas não me interessa, não é comigo.
  Dentro dos livros de capa dura e folhas ásperas me guardam palavras alheias que nunca me entederão porque não estão lá pra isso. Preciso de um livro altruísta  para poder desprezá-lo, a banevolência me  castiga.
  Minha cama profanada por mim não me aceita mais, sou obrigada a dormir no chão, ser engolida por ele todas as noites e ter pesadelos horríveis dos quais eu gosto tanto, mas eu preciso de mais. As injúrias do meu consciente para o meu subconsciente precisam ser mais injuriosas para que eu sinta alguma coisa pois tudo em excesso beira a indiferença. Mas ainda não é pra mim. E minha tribo de canibais ainda não sentiu minha falta, mas não me importa, porque não é comigo.
  Me beije, deixe que eu te sugue e no final te morda até sangrar. Quero o sangue da tua boca pra fazer uma sangria em você. Todos os teus males estão no sangue, pra depois eu te desprezar.
  A minha  boca seca e de papelão é grossa e ácida, por ela já passaram tantos pântanos, tantos sapos ignorantes que nem princíp(e)ios tinham. Mas eu não me importo, esse corpo não é meu, não é pra mim, não é comigo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Como Representar num Palco?

  Dentre muitos pensamentos estive pensando em como manter a forma.
  De um círculo ou um quadrado, a melhor maneira é manter a linha reta. De certo modo não é improvável equilibrar-se em duas linhas paralelas, tênues e constrangidas.

  A melhor forma fisica de se representar então, é sem duvida, o imaterial...

(IM pulso)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

tim tim

  Me trinco. Na tranca da porta, pela fechadura, observo como se comportam as coisas que excluí de minha esquizofrenia.
  Me tranco.
  Me pego no tranco. Sempre lenta demais.
  E no tranco, trancada por cima de trincos trincada demais, tilintando e tinindo.
  Tranca da casa, trinco da máscara. Tilintar do vidrado.
  Porque a ana se importa.
  Tudo virado, vidro trincado, caramelo quebradiço, eu mestiço.
  Meu vício no início. Nada de comprimisso. Me visto. Visçosa, indolente talentosa.
  No olho quebra. Deixa disso. Bem quisto. Deixa disso. Bem visto. Deixa disso. Ainda vidra o alienista.
  Tlintando. Quebra. Deixa disso.
  Por isso tinindo, brilho trincado.
  Garrafa   vazia,  jás vadia.  Bebida sadia.  Viscoso   viço.   Pedaço  líquido   de              a(ma)rga.massa. Cara.melo. Melo.
  Deixa disso.
  Vício sadio, indolente vadio, insoso vício. Visco disto. Alien.dista. Nista. Sádico. Saúde. Tilintando.
   
  tim tim.