sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ele e Ela


Ele pensa achar que sabe, mas não é apenas um simples saber.É um pensar que acha que sabe de tudo sobre todos,mas na verdade ele ainda está se achando no descobrir do auto-conhecimento .
Ela pensa não saber de nada, mas é um nada referente a tudo. Ela aparenta saber de muitas coisas e até se passa por interessante.
Ele sempre tão genérico.
Ela sempre tão efusiva.
Ele é sempre muito vago, tem uma opinião superficial, tão transparente e leve que nem chega a ser palpável.
Ela é expansiva, com opiniões que chama de crenças bem fervorosas.
Ele imutável.
Ela instável.
Ele é sempre o mesmo. O mesmo humor seco e inalterável. Aquele ar de pouco caso e de quem não se importa, e quem sabe se não é mesmo assim?Não está sujeito a mudanças, ele não se sujeita a mudanças.
Ela tem sempre os mesmos sentimentos e que não são poucos; fica oscilando entre eles numa velocidade inconstante. Ela faz que se importa, gosta de se importar, talvez seja de verdade.
Ele certeza.
Ela distraída.
Ele sabe de coisas sobre ela que ela não contou. Finge ter uma falsa onisciência que a surpreende.
Ela é distraída até onde sua memória limitada a permite, depois disso, ela esquece. Ele sarcástico.
Ela não perspicaz.
Ele irônico, do mesmo modo do seu humor e todo resto: seco e evidenciado. Ironias nada sutis e bem perceptíveis.
Ela se usa de ironias sutis, porém bem vista aos olhos dele, mas o contrário não acontece com ele, pois apesar de seu sarcasmo pronunciado, não é o suficiente para que ela entenda.
Ele calmaria.
Ela ventania.
Ele gosta de tempo seco e úmido, sem vento para perturbá-lo. Preenche o silêncio com uma sonoplastia estranha que ela diz que acha legal; talvez ele sinta-se desconfortável com o silêncio.
Ela gosta de tempo úmido e quanto mais vento melhor, gosta de sentir o toque do vento na sua pele e ficar arrepiada como reação. Ouve o preenchimento do silêncio dele e em resposta muitas vezes não diz nada...Ela solta sons involuntários provocados pelo cansaço que ele diz gostar...Ela se sente confortável com o silêncio, mas este a assusta.
Ele, passivo.
Ela, ativa.
Ele no sofá com posições não muito confortáveis, sempre com outra distração ligada, mas ainda assim, sempre presente. Sempre com fome, devido a ligações em horas um tanto impróprias, dela, é claro. Ele também sempre com a porta fechada ( não gosta de vento), mas mesmo assim, seres que não foram convidados aparecem para sua mini festa noturna particular...gostam de luz. A sua voz já é baixa naturalmente, mas nada o impede de gritar, apenas sua natureza.
Ela sempre com a luz apagada e as estrelas brilhando no teto. Ela também sente fome, mas por um motivo diferente: esse é um estado natural dela. Ela sempre com a janela aberta e nenhum visitante, não que ela esperasse algum, apenas para poder sentir o vento. Sua voz está baixa, mas não pela sua natureza, mas sim pela natureza de quem está ao seu redor, afinal, seu tom é alto. Gostaria de gritar.
Ele cético.
Ela crente.
Ele não tem muitas filosofias a não ser as suas e mesmo assim, não as segue à risca. Está sujeito a tudo, mas não se sujeita a tudo. Gosta de tirar conclusões momentâneas e duradouras... não acredita em qualquer coisa, mas conclui quase todas. Ela acredita em tudo com muita volubilidade, mas é tão inflexível...Ela sempre acredita em tudo o que ele diz e não sabe muito bem o porquê. Sua falta de descrença faz falta às vezes.
Ele indistinguível.
Ela esboço.
Ele deseja algo e as vezes diz o que quer,mas ninguém sabe com certeza o que ele deseja no intimo,talvez nem ele mesmo.Ele diz querer ter muitas coisas materiais,mas ele não sabe como é tê-las nem se isso é bom,apenas quer. Ele não tem um gênio muito fácil de lidar, mas também não o faz parecer mais difícil do que realmente é.
Ela não é muito certa de seu futuro, mas dentre as poucas certezas que tem é que quer viver das letras. Ela sempre tenta deixar bem explícito o que sente; coitada, tenta ser transparente, para ver se assim alguém descobre mais dela mesma, pois ela não consegue o fazer sozinha.
Ele desleixado.
Ela desatenta.
Pra ele tanto faz como tanto fez, do jeito que está, está ótimo! E se caso não estiver, bem...ele deixa mesmo assim. Um tanto negligente em relação à tudo, inclusive com a própria vida.
Ela é totalmente absorta em pensamentos perdidos. Sua concentração é muito frágil e desatenta. Se deixa passar sem que perceba, sempre esquece o que diz, mas quase nunca o que ouve.
Ele pensa.
Ela escreve.
Ele pensa. Nem muito nem pouco, mas o suficiente para dizer que pensa. Não reformula nem reforma pensamentos, os deixa cru. Os cria de uma vez só e depois os vomita pra fora e os deixa intocados e inacabados, mas sempre prontos segundo o seu critério ilógico.
Ela escreve, e com o escrever se faz pensar. Escreve, reescreve, cria, inventa, copia, reformula, edita, repensa, escreve e nunca está bom o bastante, apenas o suficiente, (não necessariamente nessa ordem). E no final, (ou no que ela acha que seja um), ela mostra pra ele e ele o publica, mesmo sabendo (e não concordando) que está inacabado.
Ele alienado.
Ela interada.
Ele tem um grande desinteresse por questões políticas e sociais, muito mais pelas políticas. Uma das poucas coisas que o tira desse estado de alienação é Ela, mas ela também é um dos meios de alienação. Fora isso, ele se mantém no umbigo.
Ela interage com coisas e pessoas e muitas vezes nem sempre é mútuo. Ela se interessa muito fácil, por tudo que brilha ou não, principalmente pelo que não brilha. Ela também provoca interesse, quase sempre dele.
Ele inenarrável.
Ela interessante.
Ele em muitos aspectos é bem singular. Um tanto excêntrico, se desvia do centro, foge dele. Não chega a ser esquisito, nem extravagante, talvez excêntrico seja a palavra, mas ele é tão desprovido de signos para explicá-lo que talvez excêntrico seja a palavra certa. Ele tem uma pretensão que a faz rir, não se sabe se é natural ou fruto do seu sarcasmo, mas o seu sarcasmo já não é natural? Talvez um bom adjetivo seja inefável, embora não faça jus ao que ele é. Ele tem um lado não muito explorado e pouco compreendido que ele está sendo desperto agora, parece gostar.
Ela possui uma avidez instigante, poderia ser chamado de curiosidade se fosse menos acentuada. É uma ânsia, uma vontade de um não-sei-o-que, com uma voracidade arrebatadora. Ela provoca certo enlevo em algumas pessoas, certa sedução, um êxtase malemolente, capaz de enlear com a mais pura facilidade. Ela é incessante, inconstante. Não pára nunca. Se faz incoerente, contraditória, desconexa e é muito enfática em tudo isso, é o que a torna reticente...
Ele egoísta.
Ela egocêntrica.
Ele tem um grande apego a si mesmo, aos seus interesses, a sua vida e em alguns acessos de boa vontade, o altruísmo faz parte do seu dicionário.
Ela tem os seus interesses como meio de vida. Com certa freqüência tem atitudes em benefício do próximo. O seu egoísmo é tanto, que ela se priva dela mesma.
Eles são tão diferentes que nem o seu egoísmo é igual, porém é a única coisa que têm em comum, é isso o que os une, pois eles se complementam e se compreendem mutuamente. O egoísmo dele e a egocentricidade dela, tem o mesmo significado, é o que os torna iguais desde os 8 anos de idade.

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