sábado, 6 de agosto de 2011

  Parece que estou pisando em areia movediça, e quanto mais rápido eu penso, afundo mais. Quanto mais fortes as lembranças, quanto mais impulsos nervosos, mais sinapses.
  Minhas mãos agarram meus cabelos arrancando suplícios de letargia. Tudo está me deixando- minha consciência, minha cirrose, minha cerveja, meu cigarro, minha depressão.
  Sinto que se você não me agarrar e não estuprar minha vontade de algodão com sua língua de foice eu posso perder o limiar da coragem.
  Estou ficando louca.
  Me agarra, me esquarteje aos poucos enquanto minha mente grita para não abandonar meu corpo.
  Lasce minha sanidade bem forte com arame farpado pra que ela sangre, jorre um vermelho desmaiado, enquanto meu corpo cai no asfalto, se atropela com ônibus, carros e verdades. As verdades sempre passaram por cima de mim, as mentiras eram velhinhas caridosas, me sorriam tão quentinhas!
  Por que agora que tudo rui, meu coração pulsa tão forte um sangue que não é meu? Por que pulsa o teu éter nas minhas veias? Mas mesmo com o éter eu afundo. Já sinto a areia na minha memória recente, não consigo mais me lembrar em que momento deixe de te amar.
  Me estupre logo, não vê que está ficando tarde demais pra você me fazer sofrer? Junto com sua língua/foice que ceifa minha boca que corta meu verbo, use seus olhos como copos para beber aquele céu Perséfone e despejar sobre minha sanidade aquele vermelho-fim-de-mundo.
  Não vê que está ficando tarde?
  Estou quase me perdendo... pode me ajudar a procurar minha sanidade? Eu poderia jurar que tinha visto um pedaço embaixo do sofá semana passada. Também tinha um resto no canto da sua boca (quando você me estuprou com sua língua/foice) mas quando fui pegar você engoliu e sobrou um pouco embaixo da minha unha. Eu tentei puxar, mas fui muito fundo e quando vi pensei que fosse um intestino mas eram só seus fetiches sendo digeridos. Tinha batom vermelho e uma camisinha usada. Mas ainda estou procurando. Você tem certeza de que não viu em lugar algum?
  Ah, estou sentindo! A areia está invadindo minhas memórias infantis. Mas pureza infantil... que utopia em tempos hoje-em-diais. Esqueci o meu lúdico.
  A última coisa...
  Eu estava num bar, fumando minha virgindade e guardando as cinzas com cuidado pra fazer um chá quando chegasse em casa. Um chá virginal, seria panacéia? Teria eu descoberto a cura para todos os problemas existenciais causado pelo auto-estupro de minhas vontades luxuriantes e por que não dizer orgásticas? Me disseram que você não pode apagar um incêndio com um isqueiro, embora eu já tenha saído de uma briga com um soco - confesso que foi um soco bem dado.
  Mas deixe isso pra lá, quem precisa de sanidade quando se está morrendo? Mas há tempos que não estou viva, então o que a areia está a afogar?
(...)