sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Dia a

  Na calçada os caras que tomam conta dos carros cheiram cola.
  Você não os paga para que o seu carro não seja roubado, você os paga para que eles não façam nada com ele.

 
  Descendo a rua vejo um mendigo com dois pedaços enormes de frango na mão. Ele aparentava uma felicidade momentânea e barata com seus poucos dentes.

 
  Eu lembro/descubro que o correio é barato e isso me deixa animada.


  No carro, fico indignada com o grau de degradação do bicho gente.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sobre brutalidade

  Percebo que não sei amar porque não sou delicada. Essa coisa bruta que me consome e que chamam amor não é bonito, é doloroso.
  Pensar nele me tira a fome.
  Pensar em como ele se trata me dá crises terríveis de choro. E o modo como ele se trata também inclui me amar.
  Pensar em aceitar esse amor me dá ânsia, porque tanto amor assim é insuportável pra alguém imutura como eu. Sinto dor física, de verdade. Não preciso me esforçar muito e meu estômago entra em convulsão.
  Dói saber o que vem pela frente.
  Dói saber o que não sabia.
  Dói de todas as maneiras, de todos os lados e em qualquer posição.
  Eu já não sei o que faria pra não doer mais.
  Eu poderia ser delicada e ele poderia me odiar, e talvez eu fosse feliz, ou fosse uma infeliz sem dor.
  Mas a ideia dele me aperta o estômago, me dá vontade de vomitar todo esse amor altruísta que o meu corpo desconhece e rejeita, mas eu amo, e amo muito.
  Desconto em sal, e meu sal é tão caro...
  Começo a tremer, perco o sono e o controle. A única coisa que queria agora é ele. Ele que me mata.
  Eu me mataria.
  Quem dera não ser passional.
  Mas há outro jeito?
  Amor barulhento que me consome. É disforme e turbulento. Me balança, me tropeça, rasteira traiçoeira que me derruba. Estou jogada e não levanto. Estou desesperada e no antro. Meu vício, vício dele. Prazer de ninguém. Abstinência pura, intermitência crua.
  Fios de alta tensão sem proteção. Meu coração dói literalmente e preciso me diluir antes que fique louca. Preciso dele inteiro e toda falta é pouca.
  Estou rouca e seca.
  Mergulhada em estilhaços.
  Estou louca e suja
  De pedaços  e de (ca)b.r.aço.
 
  "Mas ser infeliz dói mesmo que não mate"
  E a dor mata mesmo que não doa.
  Ele me quer mesmo que não ame.
  Eu amo memso que não queira.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Tempos de utopia - Fundo do baú II

  É a falta de uma tal de liberdade da qual nunca experimentei o gosto.
  Do cheiro dos meus incensos não há mais  nem resquício.
  Dos meus amigos, dos meus arrebatamentos, dos meus antigos sofrimentos, dos meus quase tormentos, do meu sorriso despreocupado, dos meus beijos em lugares proibidos, dos meus falsos sentimentos desenfreados é que sinto falta.
  Falta de sair por aí, sem precisar dar satisfação a mim mesma pra ser feliz.
  Revolução em meus cabelos, muito vento na cara, muita noite estrelada, uma cara debochada e um mundo de palhaçada. Eu era dona do mundo e sabia disso. Pisava nele descalça com meus pés horrorosos e não me importava. Luzes de todas as cores, campos de muitas flores, um coração de mil amores. Era eu em carne e poesia. Sem estrutura alguma a não ser a poética. Minhas orgias verbais. 
   É disso que sinto falta.


  Começo a ler coisas de quem sabe escrever e sinto a necessidade de também o fazer pra tentar me sentir melhor: não funciona. Mas mesmo assim continuo até o ponto em que me sinto cretina e medíocre demais pra continuar e aí tento me quebrar. Então paro. Me desconcentro. Como alguma coisa - porque eu sempre preciso comer alguma coisa - e faço qualquer coisa que me aliene ou me impossibilite de pensar. Mas hoje não vou fazer isso. Quero ver até onde minha auto-estima aguenta ficar sufocada pelos meus defeitos. Estou tentando me livrar da superficialidade.
  Fico me forçando e experimentando até chegar ao limite da minha criatividade e ver o que acontece quando a ultrapasso. Mas minha mente é esperta e começo a sentir sono.
  Começa a chover. Uma chuva homogênea daquelas que se torce pra acontecer quando está prestes a dormir. Hoje quem vai velar o sono dela sou eu. Vou ficar aqui, parada. Mão em frênesi, sentindo ela até ela cansar de ser sentida, sentir muito e se retirar. Aí eu durmo. Assim eu descubro o que minha mente faz quando para de pensar.
  Minha mão para e meu pé começa. E descubro que por enquanto não consigo verbalizar tudo que quero. Minhas palavras me fogem e não adianta criar outras pois o problema não é escassez ou excesso, e sim questão de escolha. Sempre que há dois livros e tenho que escolher pego os dois, mas e as palavras? São muitas. Fico com todas e não escolho nenhuma. Preciso fazer uma propaganda melhor de mim mesma, pois não quero mais me comprar. Me falta ser atraente a  mim mesma.
  Me sobram olhos, me faltam observadores.

  Me sinto infeliz e não sei até quando isso vai durar. Não sei até quando eu vou durar. Mas ser infeliz dói mesmo que não mate.
  Minha mão está com um cheiro que não sinto há tempos. É quase descomunal manter os olhos secos, mesmo que simultaneamente eu tente forçar um sorriso pra compensar.
  É algo só meu. Essa tristeza, essa saudade, essa necessidade de me ver feliz. Chorar me consome muito e me sinto tão cansada. Me transbordar e sentir que pelo menos de uma maneira precária e inútil estou ultrapassando algum limite.
  Os meus demônios de hoje são diferentes dos de ontem, ou talvez sejam os mesmos mas com máscaras diferentes. A manutenção de novos demônios a cada novo tormento deve ser laborioso demais. Talvez agora devam investir em demônios mais versáteis. Agora mais que nunca estão os meus demônios, e são tantos! Já não sei mais o que fazer com eles. Não cabem mais no quarto então deixo a porta fechada para que ninguém os veja, e também não posso abrir a janela pois lá fora há muitos outros esperando pra entrar.  Pra não morrer sufocada acho melhor ficar em lugares grandes, sufoco menos.
  Minha privacidade foi violada. Durmo com meus demônios. Amanhã começa mais um dia e o Sol bem que podia achar algo mais importante pra fazer em vez de nascer.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Fundo do baú

  Numa vontade desumana de ser mais velha, mais velho...
  Ando sem gênero.
  Uma vontade alheia.
  Ela me consome tanto que não sou quando tenho ela, sou ela.

                                  ***

  Controle seus impulsos!
  Alguém me disse uma vez.
  É...acho que preciso controlar meus impulsos.
  De comer que nem uma porca, de escrever até o sol quando ainda nem durmo, quando ainda acordo cedo.
  Controle seus impulsos!
  SIM!
  NÃO!
  Admito agora que sou primitiva e impulsiva quado isso se trata de uma lenta auto-destruição complusiva.
  Controle-os!

                                    ***

  Manias.
  Não, não há nenhuma normal.
  Vamos lá...tente se lembrar da pior...
  ...deixa eu ver...
  Ah!
  Essa tenho certeza é inédita!
  Toda vez que me vejo em uma situação aparentemente sem saída faço instantânea  e mentalmente uma carta de suicídio. Faço muito esforço pra não parecer piegas.
  Mas a faço apenas mentalmente, pois se escrever de fato, aí só falta cometer o ato.
  Quente demais pra mim.
  Se vier uma vontade muito forte de o cometer penso: ainda não tenho uma carta.

                                    ***

  Quando estou no âmago de uma situação, aquela cor se funde em mim com a mais marcante tonalidade possível, mas é incrível o poder que o tempo tem de banalizar as coisas.
  Depois que a cor passa, a vejo desbotada e com falhas inúmeras.
  O mesmo acontece com amores de domingo à tarde.

                                    ***

  Olho para aquele resquício.
  Pálido.
  Fraco.
  Ausente.
  Raios de sol.
  Tarde demais pra ficar cega.

                                    ***

  Reconheço desconhecidos mas não olho para os lados.
  Distraída.

                                    ***

  A lei e salsichas: me dão nojo.

                                    ***

  O começo é meio estranho.
  Não sou boa com eles.
  Minha mente ultimamente anda me negando escrita.
  Minha mente grita, minha mão para.
  Ando meio calada, corro ouvindo demais.
  Nem percebo.
  Narrações alheias, meu silêncio passa despercebido por mim.

                                    ***

  Conto estrelas.
  Ah! Mas que ignorância a minha! Deixei escapar uma.
  Mas não sei contar depois de...de...
  1, 2, 3, 4...

                                    ***

  A garota inexperiente que se fez experiência para experimentar.
  E a ré se declara:
                                    BURRA!
  Não sou pior, apenas não sutil.

                                    ***

  Sou platéia passiva de minha atividade.

                                    ***


 

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Monstro (II)

  Tem uma femeazinha cretina zumbindo no meu quarto.
  Estou prestes a dormir e só me falta o sono.
  Estou prestes a dormir e só espero que passe essa dor de cabeça alheia e inútil.
  Estou prestes a dormir e penso.
  Penso na minha caneta macia e preferida que fez o favor de falhar e me obrigou a levantar da cama para pegar outra.
  Penso em coisas.
  Em pessoas.

  E essa femeazinha cretina zumbindo no meu quarto louca pra me usurpar gotas vermelhinhas e suculentas do meu sangue doce e fresquinho.
  Penso que é tarde e hoje acordo cedo.
  Penso em como esse calor irritante vai me possuir e me deixar suar a noite inteira até eu acordar cansada de manhã e querer voltar pra cama.
  Penso na minha frigidez cruel e ingrata a desprezar as coisas simplórias  e meigas que o amor alheio me destina.
  Penso em pessoa.
  Naquela pessoa.
  Merda!
  Não era pra ser. Não era pra ser nela e nem desse jeito.
  Era pra ser melhor. Era pra ser com o amor que ela marece. Era pra ser com o amor que eu sou capaz.
  E eu sou tão capaz...
  
  Merda de femeazinha cretina! Me chupa logo e vai embora!

  Há uma letra jogada no meu quarto.

  Penso que estou com saudades do meu irmão e a semana está com uma má vontade impaciente de passar.
  Penso em quanto tempo mais vou ficar aqui perdendo tempo escrevendo. Meu estômago faz revolução e eu já escovei os dentes.
  Penso nos livros que tenho pra ler e até quando o meu bom humor vai durar. De quantos euteamobomdia eu vou aguentar. Não é de verdade, pelo menos acredite nisso de boca fechada, ok?
  Fico de cabeça pra baixo e tento perceber se o mundo está diferente. Algo mudou? Sim, agora as coisas estão do jeito que deveriam estar. Minhas ideias dão uma chacoalhada também, só pra entrar em sintonia com as oirártnoc odal od sasioc.
 
  Femeazinha de merda!

  Olho para o meu ursinho de pelúcia. Ele está olhando para o meu passarinho de palha parado no ar. Uma vez ele me disse que queria voar.(Uma vez eu disse que as coisas são parecidas com os donos).

  Ela canta tão alto pra minha dor de cabeça que me dá vontade de levantar e começar a cantar também.

  Eu perguntei o endereço e disse que ia mandar uma carta. Falei pra ele escolher entre máquina de escrever ou esses códigos ininteligíveis que têm a bondade de chamar de letra. Ele preferiu minha "letra" e prometeu que iria entender. É a primeira promessa nossa que ele não vai cumprir.

  Então eu pego ela.
  Eu como ela
  e ela dá pra mim.
  O meu sangue de volta.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Morta.

  E me despeço.
  Dessa lentidão descompassada e vazia.
  Timidez. Ela está aqui mas não sei como chamá-la.
           estou morrendo e não tenho onde me segurar.Eu só queria um pouco de céu.

 Paixões indianas desfeitas, personagens desconhecidos e crueldade barulhenta e sutil. Era só isso o que eu precisava.
  Sobre umbigos e lobas.
           estou morrendo e só queria um pouco de laranja.Eu nem tenho uma fita no cabelo...

  Me pedem segredo sobre amores sutis para estranhos e eu digo que nem era necessário.
           estou morrendo e só preciso de um pouco de comiseração.

  Saudades de me embebedar em duas taças, crises de relações inexistentes e fogo pegando sem arder. 
  Olhos verdes, negros e vinho olhando pra mim de jeitos tão peculiares, tão particulares, tão familiares.
           estou morrendo e ainda não tenho um epitáfio.

  Conspirações astrais, benevolência temporal, sutileza matinal, vespertina, noturna.
  A diária.
  Era barata. Era cara. Os olhos.
  Da cara.
           estou morrendo e ainda não doei meus órgãos.

  Vá em frente.
  Me grite o quie não quero ouvir e me suss.urre o que não consigo escutar.
  Estão todos acordados, estão todos corados.
  Estão todos queimados.
           estou morrendo e ainda não vi o Sol.

  A mesa empoeirada. Poeira filtrada. Pelos lençóis cinza.
  Cara lavada.

  As unhas pintadas. Vinho tinto.
  Era a cor.
  Esmalte roído. Era o vício.
  Vinho tinto.

  O céu em carne viva. A unha de gato. Arranhando tudo.
  Insensato.

  O livro manchado de gotas distraídas. De mãos distorcidas. De palavras caídas.
  De páginas assumidas. Em suma. Sumidas.
           estou morrendo e não tenho virtudes.

  Em asas que não tinham pena nem dó, me voava e decolava.
  Me viava e descolava.
  Me viajava e deslocava.
  Me vejo descorada.
  Me beijo decorada.
  De cor.
  E salteado.
           estou morrendo e não tenho coração.

  Me amanheço em gelo. Gesso.
  Estou dura e despedaço.
  Deste pedaço, um traço me condiciona ao dePEDAço. 
  Ao PÉDA letra. Na gaveta 
  ao PÉDA rima. Em cima. Cabeça.
  Me esqueça. Me forneça. Seu número. 
  O seu cachorro tem?
           estou morrendo e ainda não me toquei. Toco 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Feliz Ano Novo

  Faltam 20 minutos para 2010 e fiquei meio desesperada de ter mais um ano me escorrendo pelas mãos.
  Resolvi escrever um pouco.
  Minha família está reunida.
  Minha mãe está nervosa como sempre.
  Meu pai contando estórias doidas como sempre.
  Meu irmão se divertindo e rindo como sempre.
  Eu escrevendo como sempre.
  Meu cachorro dormindo como sempre.
  O Júlio verde como sempre.

  Ainda preciso mandar uns SMS's pra algumas pessoas que não estão pensando em mim agora mas eu sei que nunca me esquecem.
  O meu telefonema do dia já aconteceu. Se eu me perder em 2009 e não encontrar 2010, pelo menos a lembrança da voz dela estará mais próxima.
 
  Esse ano eu ganhei meu primeiro olho roxo, colhi flores e deixei meus 15 anos e algumas besteiras pra lá.
 Redescobri meus amigos e novos segredos. Constatei que amo cada vez  mais meu irmão, que minha mãe vai ser sempre nervosa, meu pai sempre chato, que o Max nem sempre vai estar aqui e que o Júlio vai morrer depois de todo mundo.

  Eu não fiz grandes descoberta sobre mim este ano, mas percebi como as outras pessoas me completam de uma maneira tão necessária e de como sinto falta de todas elas, (até da mulher que tem cara de Marisa e que passa perto de casa de manhã para ir trablhar. Ela tem olhos cansados). Se quiser saber de todos os meus segredos é só perguntar aos meus (des)conhecidos. Tenho muitos cúmplices.

  Por pior que tenha sido, sentirei saudades de 2009 e das coisas que deixei pra trás. Estou com um pouco de medo de não conseguir me lembrar das coisas que perdi e do quão boas elas foram.
  Tenho medo de que minhas cicatrizes se fechem completamente e de que eu me esqueça do quanto a dor que me maltrata me ensina.

            Esse ano novo preciso:
  Rever pessoas.
  Contar algumas coisas.
  Passar no vestibular.
  Estudar de verdade.
  Amar tudo de novo, com novas tonalidades e se possível com mais intensidade.
  Ler mais.
  Ser menos cruel.
  Menos indolente.
  Mais tolerante.
  Colecionar menos hematomas(desastrada).
  Emagracer um pouco mais
  e Dormir um pouco menos.


  Talvez eu tenha mais coisas pra dizer. Eu sempre tenho.
  Vou sentir saudades das cores de 2009, das pessoas de 2009 e da pessoas que eu fui em 2009.
  Bons tempos e bons tempos virão.

  Dizem que o que você faz na virada de ano, é o que você vai passar fazendo o resto do ano.
  Agora já é 11:58.
  Feliz ano novo.


  Agora vou indo.
  Tenho que chorar um pouco abraçando minha família, receber umas lambidas do Max e uma "cantada" do Júlio.
  Te vejo em 2010. 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Silêncio

  Já não era mais amor.
  Ela era passional demais pra ser indiferente. Ela sentia muito.
  Na porta aberta, retalhos mal costurados dentro do quarto/mundo. Era o seu mundo. Um mundo tão grande.
  Ela via.
  Ela ouvia.
  Ela não queria.
  É cruel.
  Você devia saber disso.
 
  O que há de errado com eles agora?
  Está quieto demais, olhos vermelhos demais.
  Excesso de sal ou de ferro?
  Olhos roxos demais.
  Ametista ou olheiras?
  Era anil.
  Era céu.
  Era céu.
  Era abismo.
  Era seco.
  Era fundo.
  Era poço.
  Sem fundo.
  Ela estava no ar permanentemente.
  Ela caía.
  Em poço seu, em infindáveis quedas ela via outros pobres descuidados nem tão ingênuos assim, que já caíram ou já haviam caído.
  Ela continuava.
  E se divertia.
  O que há de errado com eles?
  Caem aos pés.
  Caem aos montes.
  Infindável queda.
  Estava escuro.
  Eu ainda não disse isso.
  Estava escuro.
  Ela só via os corpos.
  Talvez a pele reflita melhor esse tipo de luz.
  Negra.
  Os corpos não eram brancos.
  Nem virgens.
  Nem sujos

sábado, 12 de dezembro de 2009

Moralidade casual


  Eles não se viam há muito tempo. Na verdade, não se falavam há muito tempo, nunca haviam se visto.
  Ela estava mais velha, ele puxando pra um negro azulado, mas disse estar gostando do dourado.
  Ela já seduziu muito bem, acessos de indolência, ele já caiu muito bem, gosta da conivência, hoje já não mais.
  Ela está linda e mais velha, ele continua barbudo e mais impessoal.
  Os dois recomeçam a conversar, sempre se fizeram um bem mútuo de maneiras diferentes. Os gostos eram bons e as cores sempre quentes.
  Tudo diferente mas nada de novo, saudades daquela vontade de fazer parte, sebos de terça-feira e pequenas lições subliminares de moralidade. Eles conversam e ela passa vontade. Muito sexo, filmes europeus e rock'n roll.
   Eles se despedem: "Até mais minha salvação tardia" ele diz.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Jardim



  De cabelos molhados após banho de suor que você me deu.
  O teu presente de boas vindas é sempre um olhar enigmático que me convida a te desalinhar todo até descobrir em que parte do corpo se ocultam as palavras de hoje que você escondeu.
  De maçãs do rosto rosadas e ardendo em brasa você forja em mim todos os seus segredos escondidos em cicatrizes pelo corpo. Te ajudo a soldá-las e sugá-las o que delas transbordar, pois de dentro delas sempre sai um fiozinho bem tênue, etéreo, quase transparente que se você não tivesse me ensinado eu não conseguiria ver. Este fiozinho é por onde sorvo tua essência, mana de magia pura vinda da alma. Ela me envolve toda e ficamos infusas. Tua alma e eu. Teu leite e eu. Tua nata e eu. Essência a essência, e é assim que você vê que dos meus olhos também vertem alguma coisa; gotas salinas que você bebe e lá de dentro elas te gritam ao organismo que o meu cinismo já não é mais pra você. Que o meu sarcasmo maldoso é asco da sociedade que tanto  me maltrata quando a tua mão não está lá pra me pegar pela cintura e me fazer sentir capaz de produzir e jorrar amor aos mal-amados, pra cochichar ao meu nariz cheiros de lençóis passados pela nossa pele de ferro em brasa e de janela aberta em louvor ao céu.
  Dos cataventos coloridos e brilhantes que eu olho fascinada pensando que se eu me esforçasse um pouco mais eu me desmancharia em sementes e me nasceria girassóis de inúmeras pétalas a te seguir com meus múltiplos olhos enquanto você me tateava com inúmeros sentidos, como se vida nossa fosse apenas uma poça que se pisa com força e se semeia do líquido fresco, asfalto molhado com mel.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Monstro.

  Porque não é comigo. Eu não deveria me importar, e não me importo.
  Meus gritos calados pelo pó do silêncio (ou só poeira mesmo) são velhos, mas não é comigo.
  Estou jogada, vulgar e profana, dando ilusões a qualquer um.
  Estou usada e lixada, me despedaçando e tão comum.
  Porque não é meu.
  Este corpo, ele não é meu, por isso me desuso e me abuso, porque não é comigo, por isso não ligo.
  Minha cara roxa e inchada, é pancada de vagabundo que disse me amar há um segundo e depois que termina pede desculpas, mas não é pra mim embora eles me olhem.
  Meus dedos são lixas ásperas que te roçam o rosto para sentir na pele que não sou delicada, que não sou nada, nem sua.
  Aquela que me consome, com curvas loucas e pele quente, me merece vulgar como sou, mas a desprezo. Desprezo assim como desprezo a todos que sentem qualquer coisa digna por mim, porque eu sou suja e quero coisas sujas, porque eu sou sua embora não pertença a ninguém mais que me queira.
  Como se fosse necessária a verdade, precária a capacidade de se desejar algo mais que não eu.
  Na rua larga, a caminhar no meio, longe do meio-fio, no fio tangente que me abrange como larga passante precisando de espaço, precisando de um braço. Não me basto mais, mas não me importa, não é comigo.
  As portas se fecham enquanto não finjo nada, é o medo do inesperado, daquilo que não se pode controlar. É o medo do inevitável que  faz nos extinguir. Era história e história virou agora, mas ninguém lembrará. Não era pra mim.
  Como se a vida fosse algo atingível, transferível, doável,quiçá adorável, mas ela não é minha. Esqueceram de me dar e eu não fui buscar, porque não me importa, não era pra mim, não é comigo, como se nunca tivesse sido.
  Como se atrás do guarda-roupa da casa mais bonita morasse uma tribo de canibais que os de reputação se esforçam pra esconder, mas eu consegui fugir e agora estou com fome, por isso preciso de um braço.
  Sem sentido algum, entregue a desvario meu, ainda querendo algo fresco pra sentir em meu rosto. Poderia ser um seio, gosto de pele. Poderia ser um muro, para o meu rosto roxo e ainda inchado. Poderia ser aquele braço. (Sem saber que na caixa de sapatos empoeirada embaixo da cama ainda há algumas balas cheias de pólvora, e eu ainda sem arma...). Mas não me interessa, não é comigo.
  Dentro dos livros de capa dura e folhas ásperas me guardam palavras alheias que nunca me entederão porque não estão lá pra isso. Preciso de um livro altruísta  para poder desprezá-lo, a banevolência me  castiga.
  Minha cama profanada por mim não me aceita mais, sou obrigada a dormir no chão, ser engolida por ele todas as noites e ter pesadelos horríveis dos quais eu gosto tanto, mas eu preciso de mais. As injúrias do meu consciente para o meu subconsciente precisam ser mais injuriosas para que eu sinta alguma coisa pois tudo em excesso beira a indiferença. Mas ainda não é pra mim. E minha tribo de canibais ainda não sentiu minha falta, mas não me importa, porque não é comigo.
  Me beije, deixe que eu te sugue e no final te morda até sangrar. Quero o sangue da tua boca pra fazer uma sangria em você. Todos os teus males estão no sangue, pra depois eu te desprezar.
  A minha  boca seca e de papelão é grossa e ácida, por ela já passaram tantos pântanos, tantos sapos ignorantes que nem princíp(e)ios tinham. Mas eu não me importo, esse corpo não é meu, não é pra mim, não é comigo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Como Representar num Palco?

  Dentre muitos pensamentos estive pensando em como manter a forma.
  De um círculo ou um quadrado, a melhor maneira é manter a linha reta. De certo modo não é improvável equilibrar-se em duas linhas paralelas, tênues e constrangidas.

  A melhor forma fisica de se representar então, é sem duvida, o imaterial...

(IM pulso)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

tim tim

  Me trinco. Na tranca da porta, pela fechadura, observo como se comportam as coisas que excluí de minha esquizofrenia.
  Me tranco.
  Me pego no tranco. Sempre lenta demais.
  E no tranco, trancada por cima de trincos trincada demais, tilintando e tinindo.
  Tranca da casa, trinco da máscara. Tilintar do vidrado.
  Porque a ana se importa.
  Tudo virado, vidro trincado, caramelo quebradiço, eu mestiço.
  Meu vício no início. Nada de comprimisso. Me visto. Visçosa, indolente talentosa.
  No olho quebra. Deixa disso. Bem quisto. Deixa disso. Bem visto. Deixa disso. Ainda vidra o alienista.
  Tlintando. Quebra. Deixa disso.
  Por isso tinindo, brilho trincado.
  Garrafa   vazia,  jás vadia.  Bebida sadia.  Viscoso   viço.   Pedaço  líquido   de              a(ma)rga.massa. Cara.melo. Melo.
  Deixa disso.
  Vício sadio, indolente vadio, insoso vício. Visco disto. Alien.dista. Nista. Sádico. Saúde. Tilintando.
   
  tim tim.

domingo, 29 de novembro de 2009

Tendências

  Por onde passo marco setas coloridas.O mundo é meu alvo.Se te acertei foi mero acaso.
  Não me desculpe pois não peço desculpas.Não me olhe pois não peço platéia.
  E se eu te disser que já me acostumei com as cadeiras vazias? E se eu te disser que nunca foi essa minha intenção?(Sou apenas indolente).Não,você não vai acreditar. Eu não quero que acredite.
 E se eu te disser que você não me surpreende? Que nunca me surpreendeu? Que perto de você eu beiro a indiferença.Que  perto de você eu sou má,e eu sou tão essencilamente boa...Não diga que me ama a não ser que queira que eu pise nesse amor.
  
 Eu me mostro para as lunetas.

  Quer ver minha sacola?Hoje apenas comprei incensos e alguns aquários. Sonhei com peixes noite passada. Se foi só isso? Nunca é. Ainda é um sonho. Não percebeu que você não passa de um impulso nervoso meu?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Senhores Humanóides não veem o que têm de fazer?


Oh, sim meus queridos irmãos de cérebro,temos capacidades!




Destruam tudo, deturpem  os atos mais trivais,humilhem os celestiais e vulgarizem a perfeição.
É isso o que têm de fazer e o fazem tão bem.
Crises de correspondência.

Tempo suicidado em gotas verbais.

Pre(ju)dicado,o sujeito,coitado,esqueceu de predizer.

Futuro sem pretenção.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

me devore e deixe(-a,) a carne
Teus ince(stos)nsos me defu(ntam)mam.



           

      Sua língua está no  meu

                      
                     caminho.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

RECORDE

Olheiras enormes em curtos espaços de tempo.


                                                   Quem dá mais?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Deser(ta)da(da)

  Eu tinha olhos absurdamente verdes e estava num deserto. Estava perdida. Sabia o que fazer pra não mais estar, afinal, era uma filha do deserto, mas gostava da sensação.
  Estava sentada na areia e uma ventania avassaladora intuia me desintegrar, pelo menos era isso o que estava acontecendo com as dunas, fazendo com que as dissolvese e as edificasse em segundos. Mar revolto, mutável e instável.
  O sol estava  a pino, meu mentor a atormentador. De tão forte me impedia de olhar pra cima, ofuscando qualquer intenção minha de ver o céu, a não ser pelo horizonte, e isso também se tornava cada vez mais difícil pela chuva de areia que só  não me penetrava os olhos pelos meus cílios abundamntes e longos. Fartos.
  Minhas roupas eram leves dando a sensação de que sairia voando a cada rajada maciça e emparedante de vento.
  Subitamente uma pressa me invade e sinto que tenho que ser rápida, mas não posso correr, o vento e as dunas me impediriam. Então levanto e movimento-me segundo os conselhos do vento: teria que me mexer como ele, no mesmo ritmo. Também sílfide.
  As dunas são ondas quentes.
  Levanto e pego um punhado de areia/mar em minha mão e o jogo do alto: ele se dispersa em todas as direções. Sei exatamente aonde ir. Com leveza rápida, lépida e leve caminho sem passos numa distancia de talvez três metros, então abaixo, pego outro punhado de areia/mar e o jogo do alto. Ele outra vez se dispersa por todos os lados e mudo completamente de direção. Repito isso por várias vezes por uma tempo de talvez duas horas.
  Encontro um oásis.
  Paro e admiro-o. Suas águas são tão verdes quanto os olhos meus. Meus olhos diluem-se diante de tal visão. Talvez origem, talvez fim. Ando em direção à água e nela mergulho. Longo mergulho.
  Quanse fico cega.
  Quando volto à superfície, percebo que o vento está feroz e arrebatadoramente mais forte. Vejo agora que ele está varrendo as dunas e dispersando a água, o que sobra não é mais chão. 
  Olho para o meu corpo e vejo que ele também está.
SER POETA
              É FAZER SURGIR

DA BOCA DE QUEM NÃO FALA
                       
                                                      PÉTALA

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Refazenda

  Quando meus pés tocarem o chão,
  quero sentir o olho me fazer cócegas
  que as morsas me pareçam leves
  que a neve me aqueça as costas
  e que as apostas sejam esquecidas
  numa poça dessas bem esmaecidas

  Quando a mitologia revelar seu nome
  quero a História de tinta nova
  e o que me motiva sejam Odes do tempo da poesia pragmática e do amor dogmático.
  Que pragas do amor mut(u)alizado não recaiam sobre os mesmos ímpios,
  para que os arrrepios sejam em outras estações.

  Quando a chave se perder em minha mão,
  quero flores chovendo o chão
  quero flautas chorando o fel
  a guerra romper-se em mel
  quero a cor da hematita pintada no céu.

  Quando o viscoso escoar,
  na casa mais antiga da história mais bonita,
  a colina rasa se estenderá por sobre meus pés
  e lírios tigre se mesclarão aos meus cabelos em mechas madeixas
  por onde se esgueiram os segredos da terra,
  por onde se encerra a cada serra passsante
  em cada sonho errante de realidade cadente.

  Quando as palavras semearem a mente,
      Que se faça a chuva
      Que se faça sol.
  Que se molhe a Lua presa ao firmamento por anzol
  para pescar admiradores:
  boemios e trovadores,
  seresteiros e amantes,
  que antes já foram desamores.

  Quando o mar secar a minha boca,
  que minhas constelações feitas de sal
  se banhem no mais puro anil.
  Por onde passam prazeres
  que se faça a sorte em sua essência mais vil.
  Que os ventos me abençoem da primazia da rosa,
  que venta e se espalha por espelhos
  de finas laminas salinas
  onde rendas finas namoram a terra.

  Quando a estrela  se desmaterializar
  que a açucena se desfaça em feixes de luz
  que a amarílis floresça nos horizontes cálidos de Caiena
  em doces gotas de caiana
  que a ana de tantos sufixos e prefixos
  se fixe no céu e se derrame sem nexo, sem sexo e nem eixo
  eu deixo.

 

Pa.piro

                       O chão papiro pira cada vez que piso na pira
                       onde se encontram palavras queimadas pela (l)ira

.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Violentando

  Os sabiás que me sabem ser assim como sou, me aparecem esporadicamente. Não me contam nada, mas me cantam odes da época em que eu ainda não conhecia flores.
  Os bem-te-vis, que me veem e vêm todos os dias me ver bem de perto, esses sim gostam de mim ou talvez do que veem. O que lhes vêm com frequência constante é aquele amarelo que não sei se já gosta de mim. Aquele peito pomposo quase me parece uma prece ofegante cheia de promessas que eu tento não mais acreditar. Mentiras? Não, nunca foram. Mas quando se aflora a tendência é desconfiar mais pois a beleza atrai de tudo.
  Uma possível erudição vem da rua infeliz. Entorna tudo com voracidade, olha pra cima, bebe o céu com os olhos e sente-se diluindo mais do que antes já estava, já que agora é minguante dispersa.
  Traz constelações à boca e areia na alma. Um vento abala o firmamento e leva sedimentos. Aceita a vida e muda sentimentos, se permite clichês e percebe que pode ser feliz vivenciando um, mais do que se abstraindo do óbvio.
  Tenta se limpar com a pureza dos ou(t)ros e sente-se melhor com o descostume alheio, coma falta do que fazer com os braços, com arrebatamentos desajeitados em aramários.
  Anda olhando pra cima, fincando calcanhares apesar da leveza de alma; não chega a lugar nenhum, nem a si mesma, talvez à promessas de uma futura vida de entendimentos e calmaria. A calma iria e riria de si se visse como andam agora as coisas por ali e por aqui a calma apenas seria uma calma que iria talvez virar calmaria mas não riria se apenas encontrasse entendimentos desentendidos, pois a compreensão é outra coisa, e a calma que viria a ser calmaria ambígua seria se desacompanhada de desentendimentos e compreensões desaparados.

domingo, 27 de setembro de 2009

Promessa

  Com olhos injetados:
 
 -É que eu tenho medo... -soluço molhado- ... medo de que você não consiga ser feliz...
 -E de que você também não seja?
 -Não, - Eu já descobri o meu caminho, penso - medo de que você nunca encontre algo que te satisfaça, você não está feliz, está perdido e não sabe o que fazer.
 -Mas eu ainda vou achar. Responde com rosto seco.
 -Promete?


Soluço molhado.

domingo, 6 de setembro de 2009

Sinestesia


O abismo é meu melhor espelho.

Grito pra ele e ele me retorna: GRITO! ITO! Ito. ito...

Paro pra ouvir(-lo). (Me)ouço com atenção e sinto as cores da minha voz. Melhor que qualquer imagem refletida pseudossimétrica. Você sempre vê o que quer, mas não há como peneirar o verbo.



Paredes impermeáveis, não há como absorver o meio. Encaixotada e repetitiva.

na boca

Foi na boca.

Boca é palavra sugestiva. No começo é um som cheio, que preenche tudo; depois é oco, seco, faz eco. Pede recheioFoi na boca

Exílio


À minha direita caminha um velho e à minha esquerda há um cachorro. A rua é de uma claridade turva. Além destes, penso estar sendo seguida. Olho pra trás: desconfiança confirmada. Sem pretensão alguma um menino me observa. Continuo a caminhar no mesmo ritmo, sem medo nem autoconfiança.
  Estou cheirando a nada.
Percebo então, sem espanto algum que a rua está vazia. Não há pessoas, não há carros, apenas o barulho de (meus)passos (alheios), apenas o som típico do mundo que começa a funcionar aos poucos.
  Mais à minha frente reconheço o esboço de uma larga ponte de madeira bem grossa e muito antiga.
  Aos poucos percebo que depois da ponte há um jardim muito grande e bem no meio há uma árvore, nem frondosa nem indiferente e sem fruto algum. Os animais fora do Éden. Paro ao pé da ponte e sinto que aqueles três pares de olhos me dizem pra dar meia volta. Dou as costas para a ponte e ando com displicência meticulosa.
Olho para o chão, estou descalça e não sinto o asfalto. Recomeço a andar e epenso que a vida é engraçada.

Releitura


  Do incessante relógio ao ônibus desastroso. Penso lá fora.
  Encontro casual, moralidade sensual.

[Olhe nos meus olhos e o circo pega fogo.]

  Vozes guturais sendo reconhecidas. Estremecerei imaginando. Olhe aqui dentro e o circo. Eu o cerco. Me seco. Derreto. Dormirei pensando.

[E o fogo.]
 
  Na gaveta aberta, um frêmito de papéis sussurrados. Surrada, violentada e condenada beijarei a boca.

[E o circo pega.]

  Dos móbiles ao chão. Do colchão á coxa. Da mancha roxa. Te darei lá fora.

[E o fogo pega.]
 
  Cega, da bailarina à sapatilha, dedilho minha cítara o que outrora citara a Índia.

[Circo fogo.]

  Tragarei a fumaça envolvente e trago o envolvente. Trarei enquanto trago. Trago enquanto traço envolvente fumaça a tragada que trará o fogo pra mais perto.

[E o circo.]
 
  Levantarei da cama e olharei pela janela. Já está nela aquela foto. O retrato tratado como trato indelicado.Deliciado com a vista, o outro que agora é fulano e outrora cigano adorara, adorará, adornando e tornando mais indelicado entornará.

[E o fogo é o circo que pega.]

  E o animal fora do Éden come suculenta fruta enquanto desfruta lenta e sedentamente. Bom dia de trabalho.
  Levantarei da cama e olharei pela janela, pensarei lá fora e o circo pega fogo.
  E o diluído é um ácido fraco que o corrói, é uma frase solta aquilo envolta e o vão aquilo que o traz.

[E volta.]

  Solta.
  E solto, no desequilíbrio constante, pensaria só um instante em como seria pensar igual.

[Olhe nos meus olhos e pega.]

terça-feira, 14 de abril de 2009

Atestado de óbito


  Há certas coisas que não devem se mexidas, não devem ser feitas, não devem ser lembradas. Uma fatalidade ainda não possuir o dom dom de esquecer, mas minha tolerância relativa anda relativamente bem.

  Andei e corri pensando em deixar muita coisa. Me surpreendi em perceber que não havia melhor momento para colocar ação em meu verbo. Me surpreendi em perceber que o meu corpo está ficando mais velho e minha mente... mente e continua me traindo, dissimulada que é. Vou entrar no meu ano novo velha, cada vez mais inconsequente e mais consciente. Minha consciência me mata. A consciência de minhas ações me matam. Até o dia que minhas ações me matarem, ou o que vier primeiro.

  Deixo pra trás pequenos errinhos de integridade (fisica e moral) que gostaria de dizer que foram amorais.
  Deixo pra trás pequenos desfalques de minha memória que me provou que datas nem são assim tão importantes. Faço questão de perder alguns rastros que deixei por aí, por caminhos tão gastos. Faço questão de guardar um quase amor junto com aranhas, pois este necessita de teias e pó, em lugar seco e bem arejado: condições mínimas de armazenamento para consumo em pequenas e esporádicas doses.
Piso por cima de meus antigos e burlados conceitos de moralidade em meu palco particular, que foi quase uma religião. Nessa apostasia, aposto minha felicidade num final saudoso e apoteótico, digno do ultra-romantismo: a morte; a morte dos meus conceitos, dos meus pós conceitos antigos.
  Deixo registrada a morte e promulgo o atestado de óbito da abdicação pela responsabilidade de meus atos.
  Coloco meu diário de bordo acima da cabeça e volto os holofotes a ele. Revelo que tenho segredos, mas não quem. Grandes omissões esboçadas e turvas.
  Agora ainda mais detestável, faço um esforço descomunal para rachar minha máscara.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Nostalgia de mim

Eu achei que fosse estar lá.
Mas talvez se eu soubesse que não estaria eu iria do mesmo jeito.Mesmo sabendo que me arrependeria depois,eu teria ido.
Agora eu sei.
Porque eu fui.
Agora sei que não cheguei.Minha certeza de chegar se converteu na certeza do caminho.É nisso que me apoio.É esse o meu apoio.
Saudades daquilo.
De idealizar com certeza cega.
De desejar com veemência piegas.
De querer eternamente até não querer mais.
Saudades daquilo.
De provar o meu estranho.
De fugir do meu rebanho.
De me perder enquanto procurava.
Saudades daquilo.
De provocar o meu demente.
De tatear onde mais quente.
De instigar o mais com meu suficiente.
Saudades daquilo.
De gritar à perder decibéis.
De chorar à tonéis.
De ficar sentindo até peder o sentido.
Saudades daquilo.
De dizer aos quatro ventos.
De sentir a letargia de meus movimentos.
De deixar que tomassem conta os meus violentos.
Saudades daquilo.
De doar a minha necessidade.
De amar apenas por vaidade.
De devorar com sedenta voracidade.
Saudades daquilo.
De jurar mentiras tão acreditáveis.
De fazer discursos improváveis.
De não me importar com os irreparáveis.
Saudades daquilo.
De cometar todas as besteiras.
De dizer todas as asneiras.
De abrir todas as torneiras e me deixar escorrer.
Saudades daquilo.
De debochar de minha desgraça.
De não cumprir ameaça.
De me fazer com um nariz palhaça.
Saudades daquilo.
De dizer que amava.
De sentir que amava.
De fazer que vadiava.
Saudades daquilo.
De achar que sabia.
De superestimar minha ideologia.
De achar que tinha alguma valia.
Saudades daquilo.
Da minha antiga ignorância.
De sentir diariamente minha infância.
De prezar minha inconstância.
Saudades daquilo.
De perder a minha rima.Encontrar a palavra perfeita e gastá-la sem estrutura alguma.
É aquilo.
Outra vez.

Peneirando

Aqueles segundos a mais no relógio são terríveis;não perdoam,fazem questão de não deixar passar desapercebidas palavras que não deveriam ter sido ouvidas;que não deveriam ter sido ditas.

Quando o impulso foi um pouco mais rápido e por sorte a voz um popuco mais teimosa...

"O quê?Eu não ouvi."


Por sorte.
Os ouvidos só ouvem aquilo que convêm.


Por sorte.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Letargia


Um turbilhão.
Sim,me parece uma boa definição.
Um turbilhão
é o estado que minha cabeça insiste em não sair.
Em ficar.
Em me deixar.
Não me deixa pensar
em sair.


Parece que o quero fazer já não é mais da minha conta
me parece
não mais
nunca foi


As lágrimas relutantes
que me rasgam quando caem
me transbordam limitações
meus limites
o que fazer?
choro ilimitadamente
corro parada
não sonho nem acordada
mas eu falo
CALADA
te causei?
Ótimo!
Reze 3/3 inteiros para suportar
os 2/3 que ainda não chegaram às minhas ações


Estou lenta e irada
a fera ferida com ferro
o mesmo ferro sendo usado pela fera
Eu fera
Você sendo
Ferida
aberta e cutucada

sábado, 14 de março de 2009

Classificando


Ainda te sinto em mim.
RESQUÍCIO

Lembro de você transbordar.
De mim.

Isso de ser proibido
nos instiga,motiva
a uma instintiva
sede de mais.
INSACIÁVEL

Essa tua cor que é meu
MEDO
e minha
VONTADE
este teus olhos
VERMELHOS
injetados de mim
cansados
FECHAM-SE
e
continuam a
OLHAR-me

Esta minha cor
que é a tua
NECESSIDADE
te molha,impregna e coagula
e nossa gula,a gula dele
a sua gula
me engole e quer mais
sou engolida pela gula
a tua gula de mais

No teu mal te trago bem
te ofereço
te mereço assim
e depois de trago outro
MAL
aquele mal à 3
nós e alguém
SEM GÊNERO
assim e mesmo assim
COM MAIS
e
COM MENOS
sem gênero
nós 3
formávamos um triangulo
escaleno
DESEQUILIBRADO

Consciência


É uma vontade mútua de fazer parte.
É uma situação mútua de quase impossibilidade.
É uma necessidade mútua de algo quente de verdade.
É a consciência de que não é real ,mas há uma probabilidade.

Não dormir te faz pensar demais.
Da consciência eu fico com beijo e o tapa temporariamente mentiroso.

esse frio
IMPESSOAL
transparece uma
NECESSIDADE
de querer que seja
REAL

Brincamos de ser e depois que viramos adultos ainda queremos continuar.

Você se desencanta com uma veleidade de menino brincante e logo depois sustenta fantasia passada.

Por que não me diz o quer dizer?
Já pensou que pode ser tudo que preciso pra fazer?
A pressa é minha,e meu instinto de inconveniência começa a falar mais alto.

a sensação de perda
PERDIDA misturada com
bugiganga alheia
apenas esperando que a
ENCONTREM
para poder ficar perdida em
ACHADOS

é esse inefável
FOGO CRESCENTE
que cresce indecente no peito´
e DESCE para o resto do corpo
e SOBE
FAZ A CABEÇA

é um querer fazer
mais que fazer
PARTE
de você
a sensação de me deixar
asSIM
diga

dormindo não mais
PENSO acordada também

acendo uma vela
ACORDO
e
PERCO
falhada mas acesa
APAGO

quinta-feira, 12 de março de 2009

Dados libidinosos


  Dado os termos, que os jogos comecem.
  Dados na mesa, dado os olhos nos olhos, aos olhos por olhos forte como alho. Condimentados.
  Palavras embaralhadas à mesa, à deriva. Derivada desta eram delírios, intensa atividade. Arrebatamentos tendentes a piorar.
  Palavras decotadas à boca. Cantadas à boca, mastigadas num inicial suspiro derradeiro.
Morrendo a oeste, deixando que se apossem e reflitam sua virilidade. Dá lugar a esquerda escura. A hora da ambidestria talvez não fosse agora. Eclipse.
A odalisca com uma demente malemolência, dançava em frenesi uma lambada sensual, deflorando sua geografia com decoro e irrompendo numa derrisão voluptuosa.
Ora, baralho na mesa, dama na mesa!
Aposta feita! Apostavam os jogadores na deflagração súbita e impetuosa de grandes iras e paixões. Apostavam com olhares poluídos. Afinal, quem tinha coragem de dizer? Quem seria capaz de ouvir?
Dados desumanos e tão traiçoeiros. Safados. Pervertidos. Danados. Dados. Demais. Tão inocentes quanto sábios filósofos utópicos. Tão longe dali deliberações banais , finais apoteoticos(caóticos)e escancarados. Exagero. Longe dali. Exílio.
Destroçado, desmoronado. Mais nada no lugar. Escrito em muros, violentado numa orgia verbal, jaz amor.
Vou derramar café em seus planos, em seus panos, em seus dados. Pago na saída, mas não, não vou sair. Não pago. Eu dou (novos dados). Dados muitos, beijos muitos. Não misture jogos e sacanagem. Libidinosos demais para meu pobre autocontrole.
Eu quero orgias, verbos e segredos.
Eu quero medos, gritos e flores.
O problema do vidro é que tem dois lados transparentes.
O bom do espelho é que um dos lados é quase você.
Um só gole, um só copo. Cólera.

O licor doce, o absinto amargo, destes eu sou a vírgula. Da vírgula o vão.
Em vão passo, em passada vistosa e larga.
Minha parte libidinosa é Mulher.
Me bebo quente.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Uma coisa maravilhosa chamada veneno.


Caminho por uma vereda venosa.
Me falta oxigênio, sensação vertiginosa.

Não sei como meu verbalismo em demasia te atrai.

Vate, não te vás, eu veto. Continue a relembrar memórias que estou fazendo virar futuro. Tudo tão igual, mas que ainda assim fazemos com uma verve sem igual.

Quando entra no meu organismo perturba minhas noções vitais, tudo que tenho de mais fundamental, minhas bases mais básicas. Me corrompe, me embriaga, me inebria, me nina meu menino. Uma coisa maravilhosa chamada veneno.
  Me deixe dormir. Talvez eu não acorde. Não vejo isso como algo ruim. Pura vaidade.

  A veneta alheia é algoz e eu ainda procura meu ceticismo. Eles são tão vesanos que me assustam. Se destroem com uma voracidade veloz. Conto com você meu menino versado para me explicar como essas coisas funcionam. Você tem uma didática ótima.
  Venero teus olhos que me revelam uma centralidade excêntrica.
  Neles me centro.
  Neles me concentro.
  Não pisque. Mas mesmo de olhos fechados sinto você estudando e se afundando em meus abismos. Só mais um passo.
  Essa óticaótica acontece numa veleidade tão fugaz que quando se passa muito tempo me pergunto se ela realmente existiu. Sonora, poética e literalmente você faz questão de não me deixar esquecer.
  A desvirginação vistosa da visceral visão é verberativa por si só. O ventre de olhos vítreos, injetados e vis, dentre névoas de um vale carnal deturpa-se com vividez luxuriante.
  Nos volatilizamos com a volição e confiança de quem se atira à abismos com a certeza de que vai cair.
  Estagnamos com a voracidade de quem voa.
  Engasgamos com o prazer de um afogado.
  Isso? Uma coisa maravilhosa chamada veneno