sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Jardim



  De cabelos molhados após banho de suor que você me deu.
  O teu presente de boas vindas é sempre um olhar enigmático que me convida a te desalinhar todo até descobrir em que parte do corpo se ocultam as palavras de hoje que você escondeu.
  De maçãs do rosto rosadas e ardendo em brasa você forja em mim todos os seus segredos escondidos em cicatrizes pelo corpo. Te ajudo a soldá-las e sugá-las o que delas transbordar, pois de dentro delas sempre sai um fiozinho bem tênue, etéreo, quase transparente que se você não tivesse me ensinado eu não conseguiria ver. Este fiozinho é por onde sorvo tua essência, mana de magia pura vinda da alma. Ela me envolve toda e ficamos infusas. Tua alma e eu. Teu leite e eu. Tua nata e eu. Essência a essência, e é assim que você vê que dos meus olhos também vertem alguma coisa; gotas salinas que você bebe e lá de dentro elas te gritam ao organismo que o meu cinismo já não é mais pra você. Que o meu sarcasmo maldoso é asco da sociedade que tanto  me maltrata quando a tua mão não está lá pra me pegar pela cintura e me fazer sentir capaz de produzir e jorrar amor aos mal-amados, pra cochichar ao meu nariz cheiros de lençóis passados pela nossa pele de ferro em brasa e de janela aberta em louvor ao céu.
  Dos cataventos coloridos e brilhantes que eu olho fascinada pensando que se eu me esforçasse um pouco mais eu me desmancharia em sementes e me nasceria girassóis de inúmeras pétalas a te seguir com meus múltiplos olhos enquanto você me tateava com inúmeros sentidos, como se vida nossa fosse apenas uma poça que se pisa com força e se semeia do líquido fresco, asfalto molhado com mel.

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