quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Monstro (II)

  Tem uma femeazinha cretina zumbindo no meu quarto.
  Estou prestes a dormir e só me falta o sono.
  Estou prestes a dormir e só espero que passe essa dor de cabeça alheia e inútil.
  Estou prestes a dormir e penso.
  Penso na minha caneta macia e preferida que fez o favor de falhar e me obrigou a levantar da cama para pegar outra.
  Penso em coisas.
  Em pessoas.

  E essa femeazinha cretina zumbindo no meu quarto louca pra me usurpar gotas vermelhinhas e suculentas do meu sangue doce e fresquinho.
  Penso que é tarde e hoje acordo cedo.
  Penso em como esse calor irritante vai me possuir e me deixar suar a noite inteira até eu acordar cansada de manhã e querer voltar pra cama.
  Penso na minha frigidez cruel e ingrata a desprezar as coisas simplórias  e meigas que o amor alheio me destina.
  Penso em pessoa.
  Naquela pessoa.
  Merda!
  Não era pra ser. Não era pra ser nela e nem desse jeito.
  Era pra ser melhor. Era pra ser com o amor que ela marece. Era pra ser com o amor que eu sou capaz.
  E eu sou tão capaz...
  
  Merda de femeazinha cretina! Me chupa logo e vai embora!

  Há uma letra jogada no meu quarto.

  Penso que estou com saudades do meu irmão e a semana está com uma má vontade impaciente de passar.
  Penso em quanto tempo mais vou ficar aqui perdendo tempo escrevendo. Meu estômago faz revolução e eu já escovei os dentes.
  Penso nos livros que tenho pra ler e até quando o meu bom humor vai durar. De quantos euteamobomdia eu vou aguentar. Não é de verdade, pelo menos acredite nisso de boca fechada, ok?
  Fico de cabeça pra baixo e tento perceber se o mundo está diferente. Algo mudou? Sim, agora as coisas estão do jeito que deveriam estar. Minhas ideias dão uma chacoalhada também, só pra entrar em sintonia com as oirártnoc odal od sasioc.
 
  Femeazinha de merda!

  Olho para o meu ursinho de pelúcia. Ele está olhando para o meu passarinho de palha parado no ar. Uma vez ele me disse que queria voar.(Uma vez eu disse que as coisas são parecidas com os donos).

  Ela canta tão alto pra minha dor de cabeça que me dá vontade de levantar e começar a cantar também.

  Eu perguntei o endereço e disse que ia mandar uma carta. Falei pra ele escolher entre máquina de escrever ou esses códigos ininteligíveis que têm a bondade de chamar de letra. Ele preferiu minha "letra" e prometeu que iria entender. É a primeira promessa nossa que ele não vai cumprir.

  Então eu pego ela.
  Eu como ela
  e ela dá pra mim.
  O meu sangue de volta.

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