domingo, 10 de janeiro de 2010

Morta.

  E me despeço.
  Dessa lentidão descompassada e vazia.
  Timidez. Ela está aqui mas não sei como chamá-la.
           estou morrendo e não tenho onde me segurar.Eu só queria um pouco de céu.

 Paixões indianas desfeitas, personagens desconhecidos e crueldade barulhenta e sutil. Era só isso o que eu precisava.
  Sobre umbigos e lobas.
           estou morrendo e só queria um pouco de laranja.Eu nem tenho uma fita no cabelo...

  Me pedem segredo sobre amores sutis para estranhos e eu digo que nem era necessário.
           estou morrendo e só preciso de um pouco de comiseração.

  Saudades de me embebedar em duas taças, crises de relações inexistentes e fogo pegando sem arder. 
  Olhos verdes, negros e vinho olhando pra mim de jeitos tão peculiares, tão particulares, tão familiares.
           estou morrendo e ainda não tenho um epitáfio.

  Conspirações astrais, benevolência temporal, sutileza matinal, vespertina, noturna.
  A diária.
  Era barata. Era cara. Os olhos.
  Da cara.
           estou morrendo e ainda não doei meus órgãos.

  Vá em frente.
  Me grite o quie não quero ouvir e me suss.urre o que não consigo escutar.
  Estão todos acordados, estão todos corados.
  Estão todos queimados.
           estou morrendo e ainda não vi o Sol.

  A mesa empoeirada. Poeira filtrada. Pelos lençóis cinza.
  Cara lavada.

  As unhas pintadas. Vinho tinto.
  Era a cor.
  Esmalte roído. Era o vício.
  Vinho tinto.

  O céu em carne viva. A unha de gato. Arranhando tudo.
  Insensato.

  O livro manchado de gotas distraídas. De mãos distorcidas. De palavras caídas.
  De páginas assumidas. Em suma. Sumidas.
           estou morrendo e não tenho virtudes.

  Em asas que não tinham pena nem dó, me voava e decolava.
  Me viava e descolava.
  Me viajava e deslocava.
  Me vejo descorada.
  Me beijo decorada.
  De cor.
  E salteado.
           estou morrendo e não tenho coração.

  Me amanheço em gelo. Gesso.
  Estou dura e despedaço.
  Deste pedaço, um traço me condiciona ao dePEDAço. 
  Ao PÉDA letra. Na gaveta 
  ao PÉDA rima. Em cima. Cabeça.
  Me esqueça. Me forneça. Seu número. 
  O seu cachorro tem?
           estou morrendo e ainda não me toquei. Toco 

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