Percebo que não sei amar porque não sou delicada. Essa coisa bruta que me consome e que chamam amor não é bonito, é doloroso.
Pensar nele me tira a fome.
Pensar em como ele se trata me dá crises terríveis de choro. E o modo como ele se trata também inclui me amar.
Pensar em aceitar esse amor me dá ânsia, porque tanto amor assim é insuportável pra alguém imutura como eu. Sinto dor física, de verdade. Não preciso me esforçar muito e meu estômago entra em convulsão.
Dói saber o que vem pela frente.
Dói saber o que não sabia.
Dói de todas as maneiras, de todos os lados e em qualquer posição.
Eu já não sei o que faria pra não doer mais.
Eu poderia ser delicada e ele poderia me odiar, e talvez eu fosse feliz, ou fosse uma infeliz sem dor.
Mas a ideia dele me aperta o estômago, me dá vontade de vomitar todo esse amor altruísta que o meu corpo desconhece e rejeita, mas eu amo, e amo muito.
Desconto em sal, e meu sal é tão caro...
Começo a tremer, perco o sono e o controle. A única coisa que queria agora é ele. Ele que me mata.
Eu me mataria.
Quem dera não ser passional.
Mas há outro jeito?
Amor barulhento que me consome. É disforme e turbulento. Me balança, me tropeça, rasteira traiçoeira que me derruba. Estou jogada e não levanto. Estou desesperada e no antro. Meu vício, vício dele. Prazer de ninguém. Abstinência pura, intermitência crua.
Fios de alta tensão sem proteção. Meu coração dói literalmente e preciso me diluir antes que fique louca. Preciso dele inteiro e toda falta é pouca.
Estou rouca e seca.
Mergulhada em estilhaços.
Estou louca e suja
De pedaços e de (ca)b.r.aço.
"Mas ser infeliz dói mesmo que não mate"
E a dor mata mesmo que não doa.
Ele me quer mesmo que não ame.
Eu amo memso que não queira.
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