sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A morena rosa

A morena rosa.
Dizia ela que se amarrava em prosa.
Mas ela era falsa.
Era fabricada
Era brilhante.
E era receosa.
Aquela morena rosa.
A flor morena, aquela flor pequena.
Às vezes quase se esquecia.
Se esquecia que ela era mais de um.
Se esquecia da memória de nenhum.
Se esquecia que se amarrava em prosa, e que so(f)ria na poesia.
Às vezes ela quase esquecia, a morena rosa.

A morena rosa
(aquela flor pequena)
ela não era delicada. Ela queria ser protegida.
                                    -dela mesma
aquela flor morena.

E deus!
Quando alguém iluminava sua hipocrisia.
Quando se sentia suja quando comia.
Quando sentia o que fazia.
Ah, deus!
E como doía.

Quando aquela flor orgulhosa
se molhava no Aral,
ai deus! Como ardia.
Pétalas, flor, agonia.
Uma cicatriz vivia.

Ápora, aquela sede de ágora.
Paura.
Uma vontade ápura
(ex)pura.

Aquela coisa pequena
em certa noite serena
pensou em deixar
                 - numa noite comum


Vou sair


Disse ela.
Em certa noite serena
aquela coisa pequena.
Numa noite comum.



Uma rosa orgulhosa
viu que o hOMEM a chateava
Que a vida era quase boa
e que não se molhava só com garoa.
(esperava uma gota chuva a toa)



O seu enredo a boa atriz
ela não se doava como se quis.
Pediram-na consciência
e ela deu conivência.
Perdiram-na amor, um cadinho mais.
               - ela não entendia. E chorria.
A flor morena rosa.




Ela queria ela.
Ela sonhava em tela
por( )que ela, ela ela.
Ela queria altruísmo
ela queria outro pessimismo
não o dela.
Ela, ela ela.




quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Derivada

    Têm vezes que dá vontade de ser mais de um
(todos).
    Abrangente, musicar mundo.


     E seria talvez você o meu limite.
     Eu (,) Ser abrangente, talvez não abrangeria mundo se estivesse você.
     Mas abrangeria você e mundo se estivesse sozinha

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

algia

     Sinto falta da rima.
     Do não me importar.
     De ser detalhes fasciculados e me distribuir segundo as cores daquele dia.

     As minhas rimas na geladeira.
     O café tão diluído.
     As minhas bonitas mentiras.
     O meu universo em fá.
     Agora o fá em sim enfatizado.
     Não me aconteço.
     Eu faço e me despeço.
     Eu desço e permaneço.

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzrzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
Falha da mesmice
E começar tudo de novo.
E agora não r.
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

     Em pá
     ssaros tão altos
     meus sonhos nunca foram tão caros.

     Do meu caderno vejo o sol se pôr.
     Penso no vazio aos domingos
     mas não tenho saudades do café.

panaceia não existe.

domingo, 12 de setembro de 2010

ri.t.mando

     Parece um mantra.
Ouve?
     Qualquer ritmo que não sai da cabeça.
Vontade.


     Uma conversa inacabada onde eu despia escuro e você via ruínas.

     Eu quero mais do que esse cheiro que fica depois que a vontade vai embora.
     Eu quero uma rima rara.

Comemorar o aniversário do silêncio...
quando foi que ele nasceu entre a gente e passamos a cultivá-lo?


     A desconfiança cega.
     A minha verdade prega
     uma situação invertida.

Jogando palavras como búzios.

     Depois de mim é tão difícil achar algo que combine com você.

No canto da parede uma macha
chamada discórdia.
Quantas pétalas era eu?
Depois das minhas cicatrizes você parou de contar tudo.
Antes das minhas matizes era difícil cantar mundo.

     Não, eu nego.
     A cegueira que me invade agora é pura negação.
     Toma, eu pego.
     Almíscar em fá afora é heterogênea mistificação.
     Porque a desmentira é nossa.
     É mistura,
     é grossa.
     Porque a ira na fossa
     é raivosa
     é chorosa.
mas eu choro açúcar

- a minha tristeza é fingida.

     Mas agora,
     sendo sincera
     eu quero mais.
     Desculpe-me fazer pensar que quando não ligo eu não vejo você fechando a gaveta e engolindo a chave.
     É o que todos fazem.
     Porque eu engano bem.

     Porém, a hora
     estando em guerra
     você fecha atrás
     e me deixa ver a porta
-porque está fechada.
     E me faz pensar
     que pensando não estar
     o que eu deveria fechar fechar
     são os olhos.
     É o que todas fazem.
     Porque você me quer sem.

    

Garota hipotálamo

Frio, muito frio.
Caramelo. Frio. Fazer amor.
Friocomerfazeramor
CALOR!
Fome, berinjela refogada, bolacha de maisena com margarina, vitamina de abacate, bisnaguinha com requeijão, leite gelado com groselha. Caramelo, chocolate, maçã.
friocomerfazeramor

sábado, 14 de agosto de 2010

Resposta

   E fico me perguntando se a gente já perdeu aquilo que a gente tinha.
   Medo do sim.

   Lembro de você me declarando

       amor ao meio-dia.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Monólogo.

1 - Faz o seguinte.
2 - Fala.
1 -  Pra falar a verdade, nem sei por onde começar. Comecei sem começo e agora não tenho mais meio. Ah, o meu conteúdo...

pausa longa.

1 -  Você consegue sempre dizer a verdade?
2 -  Não.
1 - (dá uma risada mental tão grande, que deixa escapar um riso perdido no canto da boca) Eu também não.

outra pausa.

1 - A mentira é minha garantia. É o modo que tenho de proteger a verdade da minha boca tão suja, dos meus atos tão sujos. Às vezes tenho medo.

2 - Eu sei.

1 - Medo de me trair.  Quando falo a verdade, me preocupo tanto com a rigidez dela, que me esqueço se estou sendo real. Mas quando minto, é tudo tão mais natural, eu posso calcular o meu verbo; a honestidade me parece mais palpável.

2 -  Suas palavras têm o peso da efemeridade.

1 - Minhas palavras têm peso. Parece que tudo que digo não é meu.
Inveja de Adão. 

pausa

2 - É assim.

pausa

Como o passarinho

e

o

vidro. 

1 - É inevitável.

2 - Também, mas é divertido.

1 - Divertido?

2 - Sim, gosto de ver você se contorcendo intimamente em decorrência de suas ações, mesmo as não cometidas.

1 - Eu preciso de você.

2 - Não, não precisa.
Você me quer por perto, e por isso é divertido.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

racionalizando

     Tem sangue escorrendo entre as minhas pernas e isso me incomoda.
     Medo aterrador de ficar louca.
     Minha vulgaridade me trai.
     Cara de boa moça.
     Palavras bonitas na hora certa e as sujas quando me distraio.

     Quantas vezes você já sentiu que tudo vai dar errado?
     Quantas vezes você não quis ser amado?
     Apenas desejado.
     O amor me depura e eu o deturpo.

     Um pássaro negro come meu fígado porque eu trago luz à minha razão.

     A chuva na janela fechada.
     Minhas falsas mãos tão vis tocam meu rosto.
     É horrível me sentir.
     Me pegar e ver que sou real.
     Morder meus lábios, deixá-los em carne viva e senti-los latejar.

     Hoje não arco comigo.
     Vontade de futuro só para que o medo se concretize mais rápido.

     Eu quero o meu silêncio absoluto.
     E que meu peito pare de doer.

aos meus pa(o)ssos

     De tudo que passa
até os meus demônios
     pois me sinto morta.
     Sem medos
     sem apelos
     sem desejos
     sem carne.

     De tudo que me basta
o amor sem passado
     superficializado
     e cremado
     não me altera nem comove
     ele me suja
     de pó.
     Cinzas, cinzas só.

                                                                                          Pela monotonia labiríntica,
                                                                                          que agora deparo ante ao espelho
                                                                                     os fios de meus cabelos.
                                                                                          Pela estesia tétrica,
                                                                                          que depois controlo perante o flagelo
                                                                                     as íris dos meus olhos de gelo.

                                                                                          O meu sutiã no chão
                                                                                          que já não sustenta essa carne dura
                                                                                    sem comapaixão
                                                                                          uma tal frieza.
                                                                                          Estou morrendo em plena idade.
                                                                                          Seria menos triste se fosse velha e feia?
    
                                                                                          Seria mais morte se eu não tivesse
                                                                                     tempo?
                                                                                          Mas eu o tenho todo,
                                                                                          eu o junto a rodo
                                                                                          e o jogo pra debaixo do tapete.
                                                                                          Será mais trágico se parecer que não o
                                                                                     tenho?

                                                                                          Eu fico mais bonita quando solto os meus
                                                                                     cabelos e os prendo quando estou segura.

                                                                                          E os raspo quando me abdico de qualquer
                                                                                     vontade.
                                                                                          É difícil não querer
                                                                                          eu sinto por temer
                                                                                          mas é só.
                                                                                          Mas é cinzas, cinzas pó.
     Um começo sem verbo
     pois o cansaço,
     aquele sem rima
     da mordida aberta
     sem dose certa.

     É sem aquele verbo
     que o começo não de repente, na mesa.
     Uma mordida no braço
     nos nervos de aço:
     a instalação do não verbo
     a desmistificação da não possibilidade da escrita sem ação.
     Exclamação: O Grito!
     Sem uma ligação
     a tentativa fechada
     o acaso da vontade aleatória
     da aparição do momento sem história
     eu na mesa,
     nervos de aço no chão.

 

terça-feira, 11 de maio de 2010

A sonho arranha céu

     Eu sonho com as suas mãos


     e num vento fraco e morno, num soturno grau,
um contorno.
              eu olho
              eu sonho
              eu velo


       a céu suponho.


-um véu eu ponho.


     Continuando a sorturno grau
- o contorno
     que me remete a estado de vazão
     de evaziva estação
     vazias estão
     as mãos com as quais sonho.


     Um barulho surdo
     eu me enconlho a frio
     um olho sutil
     me mira de cima
     brilha de rima
     astro civil.


                   a estrutura sem pauta me larga e ma.mata, me compreende e desata sem se importar  com a
                   minha frouxidão de ponto sem nó



       - da anti-poesia tão só.


     Me vazo por bocas alheias
     ando a pé por uma cidade que se constroi acima de sonhos abertos
     que quase encostam nos astros despertos.


     Estrutura vagabunda 
     inexperiente inconsistente
     de um gesto só
     cuspir na minha cara
     Óh, cara poesia
     minha salvação tardia.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Volga

     A Olga escondia algo
     a Olga nadava no lago
     e via tudo.
     A Olga ia muda e falava ao mundo.
     A Olga gostava de ir fundo
     no lago
     e no mundo gado
     vida gorda
     presente aceito
     de bom grado.

     A Olga escondia algo
     do mundo.
     Forte logrado
     oeste arrebolado
     leste forjado
     arrebol
    no mundo, a Olga escondia algo
     a sol.

     A Olga remediava sul
     consertava este
     se virava norte
     sorte
     sorte não perder assim
     solte não perder o fim
     sorte.
     Corte em mim.

     O segredo da Olga
     a fio cavalga
     horizonte de marfim

     constelções de festim.
     Um tiro.
     Estopim.
     O segredo da Olga
     duas metades sem fim.

     A Olga perdia algo
     toda vez que entrava no lago
     ela dissolvia a saga
     ela devolvia praga.

     Algo guardado
     salvo fechado
     mago calado
     fogo molhado.

     A Olga dissolvia o segredo.
     A Olga molhava o sagrado.
     A Olga profanava molhando.
     Carne viva
     sorte vil.
     A Olga perdia algo.

     A Olga perdia algo
     pro mundo
     toda vez que entrava no lago.
 
   

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Eras

     Olha pra minha idade de mentira
     lavada com litros de mistificação.
     Pras minhas olheiras caídas
     gritando resignação
vivaz
     de que eu vou ser sempre assim
     do meu cinismo sem fim.


     Nunca a lâmina foi tão atraente
     nunca meu corpo foi tão conivente,
     com a sua vontade de mim.
     Quero sim.
     Quero fechar os olhos e ao abri-los
     não reconhecer nada
agnósia
     minhas mentiras lavadas
impulso
     minhas histórias contadas
avulso


     Não reparem no meu cansaço
     e nem digam que não vou aguentar.
     Eu me aguento. Sustento minhas ambições omitidas e cometidas
mas é segredo.
     Descoberto.
    o meu degredo
     Aberto
     agora sem saída
    
     E nunca a lâmina foi tão atraente.


     Me esquecendo da pessoa que deixo de ser ao seu lado
     pensaria em como seria fácil ser sempre assim
     Me entrometendo na vida do acaso
     pensaria e  como seria fácil agir com descaso
     e não me preocupar se ele vai ou não agir, se vai ou não me ferir,
     como o fez, como o faz, como sei que o fará.


     Com esse céu nublado anual
     vejo que as coisas não mudam.
     Ajo como se vocês me ligassem
me desnudam.


     Com esse céu fosco
     em carne viva
     me dói cada gota fértil
     me arde cada poro estéril.


     Me sinto percorer um meandro vazio.
     Um fio tênue entre tuas pernas e bocas alheias. Que querem me comer. Me acabar.


     Escondendo minha mente
     falo onde quente
     quem te esconde?
     quem te diz onde?
Quem me fez? responde
     queime meus olhos
     lâmina vil.
     Me corta e frio.

domingo, 18 de abril de 2010

Viagem

     Veremos quem sangra menos
     veremos sem mais quem temos
     seremos profetas da nossa sorte
     românticos sem morte.

     Minhas tranças chicoteiam seu tino
     minha sinceridade a queima roupa trinca seu cinismo.

     Preciso de terra com sangue.
     Cheiro de guerra.
exangue

Possibilidades

     Precisando de estímulos, peço a você que me dê palavras novas, novos arranjos, e nem precisam ser coloridos, eles matizam-se por conta própria.
     Aproveite que minha estesia hoje foi trocada por orgias.


     Não quero o belo, quero um apelo.
     Não quero um singelo, quero um espelho.


     Eu olho para suas flores e pago pra ver até que ponto me faço acreditar. Até que ponto acredito te amar.


     Talvez seja ânsia pela imparcialidade e o medo inconfessável e a toda hora cometido de me contradizer.
Seria esse o limiar da minha impessoalidade?
      Mais uma desculpa por não ter coração e não me importar com irreparáveis.


possibilidades

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sobre cinismo

     Do ralo que me esgota
     e me leva pro esgoto.


teu gosto.


     Gosto de quando me diluo e sinto minha superficialidade nada básica no chão.
     Talvez trágica.
eu sumo
     Escassez mágica.


Teu rosto


     que me infesta e me incesta de vontades pesadas
     de doçura calada
     de uma mente exangue e quase em extinção.
     Sangria de verdades
     glóbulos de ferro
     jorro de maldades.
    
     Me morro em silêncio.

     Me corro
     meu rastro incenso
     me juro e convenço
     me compro e pertenço
     a um circo sarcástico
     a um mutualismo orgástico.


(uma visão secreta de vontade sem paixão. Observo calada para que não me tirem isso também.)




     Eu como sentada pra não cair quando peçonha fizer efeito.
mas o gosto é bom
e eu burra.
     Eu sofro jurada pra não me contradizer quando tiver vontades.
mas a injúria é minha
e a promessa é sua.


     Eu me recolho de porta aberta
     e o meu corpo em fase incerta
     oscila me altera
     entre albatroz e mar
     meu algoz e ar.


    Os elementos hoje não me bastam
     pois não os domino.
     Hoje o meu corpo de alma casta já foi o meu fascino.


     Bato sem sentido pra sentir que minto alguma coisa
     A indiferença me cansa.
     A hipocrizia me al.cança.


verdades de criança não me comovem mais.


     Insensibilidade vitalícia. A esperança já não corre atrás.


     Nada de destino
     apenas o inevitável irremadiável.
     Um fogo que se consome apagado
     e o que se vê é apenas fumaça.
     Um vinho sem taça.


     Eu apenas quero sentir os cheiros.
     Nada de outros sentidos.
     Mas não respiro.
     Não vivo.
     Sentir até perder  o sentido.
     Não tenho mais sentido e não sinto.

o ovo ou a galinha?
um descomeço ou a linha?


     Cata-ventos calados
     ventos alados
     eu de ventania
     revolução de meus cabelos
     calmaria.


     Um temporal.
folhas despencadas em chão de suicídios.
As árvores querem entrar
e minhas palavras gozar.


     Um vendaval.
falhas jorradas em não homicídios.
As pessoas querem mudar
e minhas tentativas se rasgar.


     Uma nesga de abismo no céu.
     Um céu Olga heterogêneo
     e com minhas palavras miscigeno
     celeste cintiliante e agreste constelante.


     Nada de destino.
     Apenas o inevitável irremediável.
     Uma fumaça densa que me consome a fogo aceso.
     Um vinho na taça.
    


    

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tanto faço.

     Eu errante de abismos.
caminho
     Me ponho pra fora de mim.
ladeira abaixo
    É apenas paliativo
    sem muito motivo
    algo que cativo

    Abaixo ladeira
eu racho.

    Por debaixo da unha
    eu rio
    me deságuo
    eu rio
    me desabo
    me rebaixo inteira
    me desuso e desvario.
   
    Ladeira abaixo
eu racho

     Não que eu me concerte
     hoje deus não me converte
     mas ainda assim acredito na passionalidade
     na possibilidade de arrebatamentos com certeza
     e nos atos a aspereza
     de alguém que não falha no que faz
     de alguém que não leva o que traz.

     Me disse que olhos seus estão brancos
     mais do que alam lavada

estão cegos

     mais do que janela fechada

estão lúcidos

     mais do que vontade escancarada.

    
     Me disse que corpo meu é bom.

como café quente em dias de sol ardente.

     Que corpo meu é água e sal
para delirante desidratado.

     Que corpo meu é puro mal
bebida quente para abstinente.


    Uma distopia é ter a última pergunta respondida.
   
     Estou escrevendo sem paixão alguma.
     Se estiver lendo me avise se é pecado ler algo assim.

.

Sobre particularidade

     No meu paraíso particular você me diz não.
     Você recusa tudo que te ofereço.
     Sou exclusa e não te merço.
    
     No meu paraíso particular
     você não faz amor comigo.
     Você se importa com o umbigo.
    
um escândalo silencioso.
 
     Me diz o que você quer que eu faça.
     Me diz o nome da tua caça.

     Espero que o meu sonho não se torne realidade.
(de) tao pura perversidade
     No meu sonho eu fujo e corro bem rápido.
     Eu sujo e morro.
     No teu sonho eu como o teu braço direito.
você é destro.
     Eu roubo a tua carne e te sequestro.

     No meu paraíso particular
     você nunca chorou por mim.
     Você me deixava fumar a depressão e ficar com ela no pulmão.

     eu quero ouvir você dizer que não sabe.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Aqui fora dentro.

     À espera de qualquer coisa
     que me dê força
     ou me palpite.
     Penso lá dentro
     e aqui fora tento
     me impessoalizar
     me imposibilitar
     de algo que me irrite.

     E aqui fora dentro
     tento não me quebrar
     tento não me estatizar,
     por isso calada.

     Não me comprem.
     Ainda não estou à venda.

domingo, 21 de março de 2010

Outras frequências

     Numa praça.
     Céu azul absurdo.

          - O que você tá fazendo?
         
Ela olha pra cima com olhos apertados por causa do sol.

          - Brincando.
          - Brincando de quê?
          - De fazer nuvens desaparecerem.

" O cabelo dela parece chocolate líquido na grama."

" Ele não existe."

          - Posso tentar?
          - Claro.

Ele deita do lado dela.

          - Como se faz?

Ela responde sem parar de olhar para o céu.

          - Primeiro você escolhe uma nuvem que queira ser escolhida e começa e pensar nela com toda força. Depois ela desaparece.

"Ele é tão frágil que parece que vai sumir se o sol ficar mais forte."
"Ela é linda."

          - Com qual você tá tentando?
          - Com aquela ali ó.

Ela aponta para uma nuvem no meio do céu. É enorme.

          - E você?
          - A que está do lado da sua.

Ela olha e analisa.

          - Pega uma menor, é  mais difícil pegar uma grande de primeira. Qua tal aquela... ali!

E aponta para um fiapo de algodão. A menor nuvem que a vista podia alcançar.

          - Aquela?
          - Sim.

Enquanto ele tenta, ela observa. Se dilui em tanta concentração.

          - Não estou mais conseguindo fazer.
          - Por que não?
          - Estou cego.

     

sábado, 20 de março de 2010

Do que já aprimoramos.


     Das suas mãos mágicas que não são videntes.
     Me semeiam sorrisos bobos e uma cara tarada que não consigo esconder.
     Me intermeiam promessas loucas e tara lavada que não consigo remover.

das suas mãos mágicas que não são videntes
as beijo de olhos fechados,
as suas digitais palatáveis e o seu tato volátil.
Tátil.


     Dos seus olhos tão limpos e sem fumaça
    dos seus olhares esquivos e de pirraça
    dos seus gostos esquizo(e)frêmito de carcaça.

           dos esquisitos sem raça
           sem quisitos

           sem graça.
           Dois copos e uma taça.
           Dois corpos e uma traça.
           uma promessa
           e outra ameaça.

     Mas é que seus olhos...
     tatilmente diferentes. Estavam mais claros.
     Em outros tempos raros.
     Encontrá-los assim.

     Chocolate fundido
     amor confundido
     entre malte e cafeína
     canela e mescalina
     ou só fusão
     de dois termos sem reação.

     A gente percorrendo
     um amor destroço.
     Escorrendo a sal grosso
     sem decoro algum.

     No rosto um esboço
     já no corpo nenhum.

     Eu com janelas semi-serradas
     ainda deixava minha alma escorrer.
     Eu toda cálida
     minha mente já inválida

     ainda tentando dizer
     que


baby, você é como terra quente na boca de afogado.

     Sua boca me tateando
     suas mãos me comendo
     seus nãos me oferecendo
     mundo de tentações
     céu de alucinações.
     Minhas pernas já bambas
     num mambo em outro mundo
outro mambo.

     Então baby,
     olha pra mim e diz.
     Que eu sou sua menina
     pura e cretina

     objeto do seu altruísmo
     a distração do seu egoísmo
     sim, cretinismo.
     Sincretismo.

     Eu encosto no seu peito
     me encaixo e deito
     e sussurro o seu nome bem baixo.
     Me mostra o que pensa
     devora a minha crença
     e só me faz acredirar no que não acho.

     Agora eu tento
     sem usar os sentidos
     dizer que isso é exato
     te beijar sem contato
     só pra te provar que acima e abaixo e de todos os lados da superfície
     só pra te provocar em cima e embaixo e de modos calados da mesmice
     que meus sentidos e meus números não são movidos apenas por Éros.
    
o amor que devora, este sim me enamora
me acalenta e controla.