quinta-feira, 8 de julho de 2010

Monólogo.

1 - Faz o seguinte.
2 - Fala.
1 -  Pra falar a verdade, nem sei por onde começar. Comecei sem começo e agora não tenho mais meio. Ah, o meu conteúdo...

pausa longa.

1 -  Você consegue sempre dizer a verdade?
2 -  Não.
1 - (dá uma risada mental tão grande, que deixa escapar um riso perdido no canto da boca) Eu também não.

outra pausa.

1 - A mentira é minha garantia. É o modo que tenho de proteger a verdade da minha boca tão suja, dos meus atos tão sujos. Às vezes tenho medo.

2 - Eu sei.

1 - Medo de me trair.  Quando falo a verdade, me preocupo tanto com a rigidez dela, que me esqueço se estou sendo real. Mas quando minto, é tudo tão mais natural, eu posso calcular o meu verbo; a honestidade me parece mais palpável.

2 -  Suas palavras têm o peso da efemeridade.

1 - Minhas palavras têm peso. Parece que tudo que digo não é meu.
Inveja de Adão. 

pausa

2 - É assim.

pausa

Como o passarinho

e

o

vidro. 

1 - É inevitável.

2 - Também, mas é divertido.

1 - Divertido?

2 - Sim, gosto de ver você se contorcendo intimamente em decorrência de suas ações, mesmo as não cometidas.

1 - Eu preciso de você.

2 - Não, não precisa.
Você me quer por perto, e por isso é divertido.

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