segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Indigente

  Aquela putaria toda.
  Porque as reprimidas são as piores.
  Uma agulhada fina.
  Aquela puta na sistina.
  Uma puta vontade.
  Uma puta de vontade.
  Uma pontada.
  Várias pontadas.
  Quero ver você se cortar todo, dizer que quer mesmo os mais profanos e um sortilégio na esquina.
  Com um pouco de sangue e uma cara lavada, ou cara de beijo, porque hoje eu aceito os dois. Hoje eu aceito até você, que sois o negro e minha parte podre. Aquela que tanto falso, que tanto falo, que tanto omito.

  Todo sobrescrito em substrato.
  Ah!
  Prazeres prosaicos.
  Estou falando de sacrilégios.
    todo amor é incestuoso.
  Estou falando de sacrifícios.
    todo amor é doloroso.

  Falo ainda de mecenato, pois a arte tem seus patrocinadores.
  Qualquer tipo de arte.
  Qualquer tipo de artista.
  Qualquer tipo de patrocínio.
  Todos depurados de amor, ou deturpados por ele.

  Porque eu quero algo desapaixonado.
  Porque eu quero a forma de arte em beleza profunda e em forma artística e inútil, segundo O. Wilde.
  Mas eu amo profundamente.
  Se ela for bela o erro é meu, mas se não for, apreciem-na, porque terá alguma utilidade.

  Fruta passada escorrendo entre dedos.
  Dedos escorrendo entre peitos.
  Minha boca escoreando corpo.

  Meus olhos ardendo e você me beijando.
  Você é como areia na boca de embriagado.
  Você me promete.
  E eu tento não esquecer.
  Você me bate e eu te amo.
  Você me mata e eu difamo.
  Você sente e eu reclamo.

  Mas é um gosto gostoso.
  Adstringente, confesso.
  Abstinente, um retrocesso.
  Porque sou primitiva.
  Porque sou intuitiva.
  Porque sem aquilo em que me apoio o meu desapoio é você.

  Olha pra mim e diz o quanto eu sou cascavel.
  Que te injeta peçonha (ou panacéia) na veia.
  Que te sonha a cega, que te oponha e nega.

  Então olha pra mim.
  Mas agora não diga nada.
  E também não pense.
  Pois você não me ama em pensamento.
    mas também não me ama ações.
  Você só me ama quando seus sentidos, seu corpo e sua mente  estão falhos.
  Porque sou sua kriptonita.
  Aquilo que te limita.
  Uma eremita com multidões.
  Uma erudita com ereções.

  Conjugue um verbo qualquer na terceira pessoa do plural e me diga que tipo de platéia você quer ser.

  Me diga que parte do corpo está sentindo agora e eu te digo o estou com vontade de fazer, que tipo de amante você é e o que vamos comer.

  Se eu estou falando de amor?
  Mas eu estou apaixonada.
  Aquela paixão não direcionada que me dá vontade de gritar, fazer parte do chão e ser pisada. Beijar você e morder sua língua.
  Você me deixa?

  Eu só queria correr um pouco mais e sentir o vento bater um pouco mais forte.
  Só por esporte ou meio de transporte.
  Qulaquer coisa que me conforte.

  Quero falar sobre algo do qual nunca falamos.
  Nada de desejos.
  Nada de sonhos, vontades, amor ou segredos.
  Quero falar sobre a unha.
  A unha que quebra quando arranho suas costas.
  Ou sobre fios.
  Fios de cabelo que ficam na sua mão enquanto devoro o seu pescoço.

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