quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Do que ainda precisamos aprimorar.

  Venho pedalando muito rápido porque à essa altura do campeonato- de bolos e atrasos-  você já percebeu que pontualidade nunca foi o meu forte.
  Você me vê chegando e tenta de um modo precário e quase meigo sufocar um sorriso.
  Tenta de um modo inútil fingir que está tudo bem e de maneira convincente que tudo vai ficar.
  A gente repara em silêncio que o meu shorts curto tem um caimento perfeito quando você está do meu lado e que minha blusa colada tem o decote que você sonhou.
  Te abraço apertado e fico toda faiscada de amarelo.
  Você me dá um beijo molhado e aperta minhas curvas finas de caramelo.

  No carnaval, no meio de um tumulto a sós, num lugar de ecos, num lugar de becos, onde carne vale.
  A nossa carne valia.
  Em cima da bancada de carne.
  Brincadeira vadia.
  Aquilo era um velho açougue.
  Nossa nova carne em cima da velha bancada.
  A nossa nova história em cima das ruínas de um passado maltratado e recente.
  Cinzas frias.
  A gente quente.

  Agarra minha cintura e eu me enredo em teu pescoço.
  Como um cão e o seu osso.
  Minha lembrança é um esboço.
  Quando as coisas ficam quentes quem se encarrega é a censura.
  Da minha cintura enlaçada.
  Da minha roupa amassada.
  Dessa vontade sem cura.
  Na minha boca uma secura.
  Me quebra.
  Me pega
  e me segura.

 
                  Uma sede do caralho
                  Cem gotas de orvalho
              e uma rima horrível sem cenário.



  Porque a nossa estética inexiste.
  A gente não era pra acontecer.
  Porque a nossa poesia coexiste e se inter.fere
  e a nossa rima não confere.
  Nosso desquilíbrio é frágil.
  Nossa sintonia quase falha.
  Numa sinfonia em retalho.
  Um baralho de navalhas.


  Têm pessoas que têm o rei na barriga.
  Eu tenho uma lua.
  Um "eu te amo"
  e duas bocas.
  Uma desenhada
  outra fulano.


  Enquanto você dava uma de estetoscópio humano, ouvindo meu coração, meu estômago e outras coisas; eu dava uma de menina sonhadora, gritava "Eu te amo" e me diluía naquele céu azul com tufos de algodão, que já havia sido quase um pesadelo em outros tempos. Em outros templos, outras adorações.


  Eu conversava com a sua barriga e você me fazendo caretas de arrepio.
  Eu vermelhando sua pele branca e te olhando com olhar vadio.
  Você é o meu desvio.
  Meu meandro sombrio que me induz a um beco vazio pra me instigar perversões.
  Contradições.
  Que a maníaca seja eu.
  Que o crime seja meu.
  Que violentado seja o corpo seu.

  Mas a hipocrizia é minha.
  De metir com pura honestidade.
  Na voz banalidade.
  No corpo,
  límpida veleidade.

  Inteira metade
  inha
  Completa vontade
  ua
  Uma volta e meia
  beijo
  Meia volta outra

  deixo.

3 comentários:

  1. Profundo, revelador e me fez viajar até o cenário descrito! Ótimo entrosamento com as palavras, versos perfeitos! Corpo e alma falando, de alguma forma!
    Amei! ♥-♥

    ResponderExcluir
  2. Também me fez viajar te o cenário descrito..

    ^^

    rs

    ResponderExcluir
  3. A sinestesia é algo que me fascina
    e de alguma forma sua rima lhe incrimina
    quando vc sente o vermelho
    voce reflete um futuro amargo, com gosto de azul
    que toma a forma de um vento
    que varre a intimidade, a perversão
    para trazer de volta o medo gerado por uma ilusão...

    ResponderExcluir