quinta-feira, 29 de abril de 2010

Volga

     A Olga escondia algo
     a Olga nadava no lago
     e via tudo.
     A Olga ia muda e falava ao mundo.
     A Olga gostava de ir fundo
     no lago
     e no mundo gado
     vida gorda
     presente aceito
     de bom grado.

     A Olga escondia algo
     do mundo.
     Forte logrado
     oeste arrebolado
     leste forjado
     arrebol
    no mundo, a Olga escondia algo
     a sol.

     A Olga remediava sul
     consertava este
     se virava norte
     sorte
     sorte não perder assim
     solte não perder o fim
     sorte.
     Corte em mim.

     O segredo da Olga
     a fio cavalga
     horizonte de marfim

     constelções de festim.
     Um tiro.
     Estopim.
     O segredo da Olga
     duas metades sem fim.

     A Olga perdia algo
     toda vez que entrava no lago
     ela dissolvia a saga
     ela devolvia praga.

     Algo guardado
     salvo fechado
     mago calado
     fogo molhado.

     A Olga dissolvia o segredo.
     A Olga molhava o sagrado.
     A Olga profanava molhando.
     Carne viva
     sorte vil.
     A Olga perdia algo.

     A Olga perdia algo
     pro mundo
     toda vez que entrava no lago.
 
   

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Eras

     Olha pra minha idade de mentira
     lavada com litros de mistificação.
     Pras minhas olheiras caídas
     gritando resignação
vivaz
     de que eu vou ser sempre assim
     do meu cinismo sem fim.


     Nunca a lâmina foi tão atraente
     nunca meu corpo foi tão conivente,
     com a sua vontade de mim.
     Quero sim.
     Quero fechar os olhos e ao abri-los
     não reconhecer nada
agnósia
     minhas mentiras lavadas
impulso
     minhas histórias contadas
avulso


     Não reparem no meu cansaço
     e nem digam que não vou aguentar.
     Eu me aguento. Sustento minhas ambições omitidas e cometidas
mas é segredo.
     Descoberto.
    o meu degredo
     Aberto
     agora sem saída
    
     E nunca a lâmina foi tão atraente.


     Me esquecendo da pessoa que deixo de ser ao seu lado
     pensaria em como seria fácil ser sempre assim
     Me entrometendo na vida do acaso
     pensaria e  como seria fácil agir com descaso
     e não me preocupar se ele vai ou não agir, se vai ou não me ferir,
     como o fez, como o faz, como sei que o fará.


     Com esse céu nublado anual
     vejo que as coisas não mudam.
     Ajo como se vocês me ligassem
me desnudam.


     Com esse céu fosco
     em carne viva
     me dói cada gota fértil
     me arde cada poro estéril.


     Me sinto percorer um meandro vazio.
     Um fio tênue entre tuas pernas e bocas alheias. Que querem me comer. Me acabar.


     Escondendo minha mente
     falo onde quente
     quem te esconde?
     quem te diz onde?
Quem me fez? responde
     queime meus olhos
     lâmina vil.
     Me corta e frio.

domingo, 18 de abril de 2010

Viagem

     Veremos quem sangra menos
     veremos sem mais quem temos
     seremos profetas da nossa sorte
     românticos sem morte.

     Minhas tranças chicoteiam seu tino
     minha sinceridade a queima roupa trinca seu cinismo.

     Preciso de terra com sangue.
     Cheiro de guerra.
exangue

Possibilidades

     Precisando de estímulos, peço a você que me dê palavras novas, novos arranjos, e nem precisam ser coloridos, eles matizam-se por conta própria.
     Aproveite que minha estesia hoje foi trocada por orgias.


     Não quero o belo, quero um apelo.
     Não quero um singelo, quero um espelho.


     Eu olho para suas flores e pago pra ver até que ponto me faço acreditar. Até que ponto acredito te amar.


     Talvez seja ânsia pela imparcialidade e o medo inconfessável e a toda hora cometido de me contradizer.
Seria esse o limiar da minha impessoalidade?
      Mais uma desculpa por não ter coração e não me importar com irreparáveis.


possibilidades

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sobre cinismo

     Do ralo que me esgota
     e me leva pro esgoto.


teu gosto.


     Gosto de quando me diluo e sinto minha superficialidade nada básica no chão.
     Talvez trágica.
eu sumo
     Escassez mágica.


Teu rosto


     que me infesta e me incesta de vontades pesadas
     de doçura calada
     de uma mente exangue e quase em extinção.
     Sangria de verdades
     glóbulos de ferro
     jorro de maldades.
    
     Me morro em silêncio.

     Me corro
     meu rastro incenso
     me juro e convenço
     me compro e pertenço
     a um circo sarcástico
     a um mutualismo orgástico.


(uma visão secreta de vontade sem paixão. Observo calada para que não me tirem isso também.)




     Eu como sentada pra não cair quando peçonha fizer efeito.
mas o gosto é bom
e eu burra.
     Eu sofro jurada pra não me contradizer quando tiver vontades.
mas a injúria é minha
e a promessa é sua.


     Eu me recolho de porta aberta
     e o meu corpo em fase incerta
     oscila me altera
     entre albatroz e mar
     meu algoz e ar.


    Os elementos hoje não me bastam
     pois não os domino.
     Hoje o meu corpo de alma casta já foi o meu fascino.


     Bato sem sentido pra sentir que minto alguma coisa
     A indiferença me cansa.
     A hipocrizia me al.cança.


verdades de criança não me comovem mais.


     Insensibilidade vitalícia. A esperança já não corre atrás.


     Nada de destino
     apenas o inevitável irremadiável.
     Um fogo que se consome apagado
     e o que se vê é apenas fumaça.
     Um vinho sem taça.


     Eu apenas quero sentir os cheiros.
     Nada de outros sentidos.
     Mas não respiro.
     Não vivo.
     Sentir até perder  o sentido.
     Não tenho mais sentido e não sinto.

o ovo ou a galinha?
um descomeço ou a linha?


     Cata-ventos calados
     ventos alados
     eu de ventania
     revolução de meus cabelos
     calmaria.


     Um temporal.
folhas despencadas em chão de suicídios.
As árvores querem entrar
e minhas palavras gozar.


     Um vendaval.
falhas jorradas em não homicídios.
As pessoas querem mudar
e minhas tentativas se rasgar.


     Uma nesga de abismo no céu.
     Um céu Olga heterogêneo
     e com minhas palavras miscigeno
     celeste cintiliante e agreste constelante.


     Nada de destino.
     Apenas o inevitável irremediável.
     Uma fumaça densa que me consome a fogo aceso.
     Um vinho na taça.
    


    

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tanto faço.

     Eu errante de abismos.
caminho
     Me ponho pra fora de mim.
ladeira abaixo
    É apenas paliativo
    sem muito motivo
    algo que cativo

    Abaixo ladeira
eu racho.

    Por debaixo da unha
    eu rio
    me deságuo
    eu rio
    me desabo
    me rebaixo inteira
    me desuso e desvario.
   
    Ladeira abaixo
eu racho

     Não que eu me concerte
     hoje deus não me converte
     mas ainda assim acredito na passionalidade
     na possibilidade de arrebatamentos com certeza
     e nos atos a aspereza
     de alguém que não falha no que faz
     de alguém que não leva o que traz.

     Me disse que olhos seus estão brancos
     mais do que alam lavada

estão cegos

     mais do que janela fechada

estão lúcidos

     mais do que vontade escancarada.

    
     Me disse que corpo meu é bom.

como café quente em dias de sol ardente.

     Que corpo meu é água e sal
para delirante desidratado.

     Que corpo meu é puro mal
bebida quente para abstinente.


    Uma distopia é ter a última pergunta respondida.
   
     Estou escrevendo sem paixão alguma.
     Se estiver lendo me avise se é pecado ler algo assim.

.

Sobre particularidade

     No meu paraíso particular você me diz não.
     Você recusa tudo que te ofereço.
     Sou exclusa e não te merço.
    
     No meu paraíso particular
     você não faz amor comigo.
     Você se importa com o umbigo.
    
um escândalo silencioso.
 
     Me diz o que você quer que eu faça.
     Me diz o nome da tua caça.

     Espero que o meu sonho não se torne realidade.
(de) tao pura perversidade
     No meu sonho eu fujo e corro bem rápido.
     Eu sujo e morro.
     No teu sonho eu como o teu braço direito.
você é destro.
     Eu roubo a tua carne e te sequestro.

     No meu paraíso particular
     você nunca chorou por mim.
     Você me deixava fumar a depressão e ficar com ela no pulmão.

     eu quero ouvir você dizer que não sabe.