domingo, 15 de abril de 2012

O beijo

  Ele colocava a língua de leve
  na minha boca
  eu de pensamentos roucos
  de cataventos poucos
  enquanto ventavam
  tateava a fineza de alma

  algo tão leve
  assoprando dentes-de-leão
  de uma sensibilidade etérea
  de um contato pétala
  um com contato de pegá-la
  com cuidado
  até com certa tristeza
  de perturbar tal languidez.


  Até pronunciar quase doi
  num simbolismo pincelada
  de uma boca semi-cerrada
  um raro
  raro
  raro
  semi-triz.


  Penteando pensamentos
  algumas frases ficavam na sua mão
  tanto
  tanto
  tanto caro
  eu ficava sussurrando 
  vaga-lume em torno
  brisas de mornas
  ideias sem contorno.


  Vontades sonâmbulas
  uma verdade sonolenta
  lenta
  lenta
  lenta
  que te tira da cama
  e te faz fechar os olhos
  pra tatear onde mais sente
  pra tentar solver
  a vontade que mais quente.


  Um suspiro calmo
  de tato feno
  quase felino
  me acalma
  teu sereno de estrelas
  me mostra um céu cravado
  de brigadeiro.


  Teu som ameno
  da delicadeza quase extremo
  panaceia do céu expremo
  lágrimas de nuvem.


  Me acalma
  nina minhas vontades sonâmbulas
  que meninas trêmulas
  se desmancham
  em pétalas de lírios
  colírios pra mim
  delírios de mim.
  (dê lírios pra mim)



  Dança
  dança
  dança
  enquanto experimento temperança
  desfaço minha trança
  te laço
  enveredando
  sem esperança de te livrar dos meus nós
  do teu nosso
  da nossa dança
  dança
  dança.


  Um dissabor
  dissecando almas
  coletar essências
  sentir à fria palma
  uma frieza
  pura
  pura
  pura
  capto tal candura
  e te devolvo aos poucos
  com cuidado
  claro
  claro
  claro
  pra que eu possa ver tudo
  e sentir mundo
  e tocar muda
  tuas pequenas mudanças.


  Silêncio melancólico
  de cores
  tons pastel
  um misto
  (quente)
  de pele de papelão
  e textura de algodão
  de tela pintada a óleo
  feita à mão.


  E se
  se te desnudo

  livre de escudos
  te sinto tão
  frágil ao punhal
  tão
  tão
  tão
  livre de espinhos
  quase sacra ferida
  que até meu beijo pode ser fatal.
  
  Estanco ferida
  como
  tranco gaveta
  fecho
  fecho
  fecho
  para que ao final
  no desfecho
  tuas cicatrizes
  não sejam capazes de dizer
  mais do que um trecho
  
  Um mantra
  de manhã
  é como se fazer com palavras
  um talismã
  rezo
  rezo
  rezo
  e peço para que nosso meio
  aconteça sem freio


  Te digo
  que meus milagres
  com gosto de mil acres
  são tão em carne viva
  quanto os meus sonhos
  que meus vinagres
  tão vinho acre
  são tão ou mais marcantes
  que massacres.
  Digo
  digo
  digo
  que me inebrio com pouco
  que me arrepio sem ter ópio
  que desmaio com um soco.
  
  Penso em mãos tuas
  frágeis como pequenas luas
  que me molham de luz
  luz
  luz
  que de olhos fechados 
  me sinto onisciente
  em ti tão presente
  na maciez do teu desejo
  mais pertinente.


  E ele tirava a língua de leve
  da minha boca
 
  Eu verificava

  quanto de mim
  estava nele
  e quanto de mim
  agora era ele.



  De um contato mais que pétala.
  Mais que sépala.  

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