Ele colocava a língua de leve
na minha boca
eu de pensamentos roucos
de cataventos poucos
enquanto ventavam
tateava a fineza de alma
algo tão leve
assoprando dentes-de-leão
de uma sensibilidade etérea
de um contato pétala
um com contato de pegá-la
com cuidado
até com certa tristeza
de perturbar tal languidez.
Até pronunciar quase doi
num simbolismo pincelada
de uma boca semi-cerrada
um raro
raro
raro
semi-triz.
Penteando pensamentos
algumas frases ficavam na sua mão
tanto
tanto
tanto caro
eu ficava sussurrando
vaga-lume em torno
brisas de mornas
ideias sem contorno.
Vontades sonâmbulas
uma verdade sonolenta
lenta
lenta
lenta
que te tira da cama
e te faz fechar os olhos
pra tatear onde mais sente
pra tentar solver
a vontade que mais quente.
Um suspiro calmo
de tato feno
quase felino
me acalma
teu sereno de estrelas
me mostra um céu cravado
de brigadeiro.
Teu som ameno
da delicadeza quase extremo
panaceia do céu expremo
lágrimas de nuvem.
Me acalma
nina minhas vontades sonâmbulas
que meninas trêmulas
se desmancham
em pétalas de lírios
colírios pra mim
delírios de mim.
(dê lírios pra mim)
Dança
dança
dança
enquanto experimento temperança
desfaço minha trança
te laço
enveredando
sem esperança de te livrar dos meus nós
do teu nosso
da nossa dança
dança
dança.
Um dissabor
dissecando almas
coletar essências
sentir à fria palma
uma frieza
pura
pura
pura
capto tal candura
e te devolvo aos poucos
com cuidado
claro
claro
claro
pra que eu possa ver tudo
e sentir mundo
e tocar muda
tuas pequenas mudanças.
Silêncio melancólico
de cores
tons pastel
um misto
(quente)
de pele de papelão
e textura de algodão
de tela pintada a óleo
feita à mão.
E se
se te desnudo
livre de escudos
te sinto tão
frágil ao punhal
tão
tão
tão
livre de espinhos
quase sacra ferida
que até meu beijo pode ser fatal.
Estanco ferida
como
tranco gaveta
fecho
fecho
fecho
para que ao final
no desfecho
tuas cicatrizes
não sejam capazes de dizer
mais do que um trecho
Um mantra
de manhã
é como se fazer com palavras
um talismã
rezo
rezo
rezo
e peço para que nosso meio
aconteça sem freio
Te digo
que meus milagres
com gosto de mil acres
são tão em carne viva
quanto os meus sonhos
que meus vinagres
tão vinho acre
são tão ou mais marcantes
que massacres.
Digo
digo
digo
que me inebrio com pouco
que me arrepio sem ter ópio
que desmaio com um soco.
Penso em mãos tuas
frágeis como pequenas luas
que me molham de luz
luz
luz
que de olhos fechados
me sinto onisciente
em ti tão presente
na maciez do teu desejo
mais pertinente.
E ele tirava a língua de leve
da minha boca
Eu verificava
quanto de mim
estava nele
e quanto de mim
agora era ele.
De um contato mais que pétala.
Mais que sépala.
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